A partir desta segunda-feira (2) duas centenas de nações se
reúnem na capital espanhola para a 25ª cúpula sobre a crise do clima global.
Teme-se dupla decepção, tanto pelos resultados do encontro, provavelmente
pífios, quanto pelo papel do Brasil, hoje
desacreditado.
Os países participantes do Acordo de Paris para reduzir as
emissões de gases do efeito estufa chegam a Madri depois de ver a COP-25
desdenhada pelo presidente Jair Bolsonaro e em seguida cancelada na sede
substituta, Santiago do Chile, por força dos distúrbios ali.
O encontro começa também desfalcado de um protagonista, os
EUA, em processo de retirada do tratado por decisão idiossincrática de Donald
Trump.
A perspectiva é ruim. Principal gás causador do aquecimento
global, o dióxido de carbono (CO2) atingiu uma concentração
recorde na atmosfera, 408 ppm (partes por milhão), quase 50% acima da era
pré-industrial (280 ppm).
O planeta só esteve assim há mais de 3 milhões de anos. O
mundo era então 2ºC a 3ºC mais quente, e os oceanos se encontravam entre 10 e
20 metros mais elevados.
Emissões de carbono seguem em alta. Projeções indicam que
vários integrantes do acordo —como o Brasil— descumprirão metas voluntárias
assumidas em Paris. E, mesmo que todos as realizassem, ainda assim a
temperatura subiria mais de 3ºC neste século.
Recorde-se que o texto parisiense previa aumento máximo de
2ºC, já considerado perigoso, e que de preferência não se deveria ultrapassar
1,5ºC adicional. Com apenas 1ºC de aquecimento já alcançado, multiplicam-se
eventos extremos como as enchentes em Veneza e os incêndios no Pantanal e na
Amazônia, na Austrália e na Califórnia.
Na pauta de Madri figuram regras e padrões para monitorar
resultados do acordo, mas parece improvável que se avance aí. Prevalece o
ressentimento de nações emergentes e pobres com a defecção dos EUA e a promessa
vazia dos países ricos de carrear-lhes US$ 100 bilhões anuais para incentivar o
desenvolvimento limpo.
A delegação brasileira, que no passado exerceu alguma
liderança nas negociações, desembarca em Madri na berlinda. Carrega o fardo de
um desastre no desmatamento da floresta amazônica (nossa maior fonte de
emissões), que saltou 30% no ano, e representa um governo obtusa e
agressivamente refratário à questão ambiental.
Soa inglória, assim, a pretensão
do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) de levantar recursos na
COP-25. Como não se trata de reunião para amadores e fariseus, todos ali sabem
que a principal realização do governo na área foi inviabilizar o bilionário
Fundo Amazônia, que tinha finalidade idêntica.
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