O presidente Jair Bolsonaro acusou o golpe ao atacar
repórteres que meramente cumpriam sua função fazendo perguntas, até óbvias.
Ficou evidente que a crise Flávio Bolsonaro mexeu com os seus nervos e, sem
respostas, ele parte para ironias e grosserias. Esse, porém, é só um dos muitos
problemas que desabam sobre a cabeça presidencial neste fim de ano.
Enquanto as revelações sobre o filho “01” borbulham no Rio
de Janeiro, Bolsonaro vai colhendo más notícias ora do Supremo, ora do
Congresso, e a relação entre ele e o deputado Rodrigo Maia, que nunca esteve às
mil maravilhas, parece ir de mal a pior.
O mais ameaçador para Bolsonaro é o volume de informações
que envolvem Flávio com funcionários fantasmas, desvio de salários do gabinete,
ligações com líderes de milícias, lavagem de dinheiro em compra de loja e de
apartamentos. Mas não é só isso.
Nesses derradeiros dias até 2020, o STF, que reativou as
investigações do MP contra Flávio e Queiroz, reuniu também maioria para
derrubar a proposta de Bolsonaro de acabar com o DPVAT, um seguro fundamental
que no ano passado atendeu a quase 330 mil vítimas do trânsito ou suas
famílias.
Isso remete a projetos, digamos, pessoais de Bolsonaro que
foram bombardeados pela opinião pública e por especialistas e acabaram
derrotadas ou esquecidos no Legislativo. O caso mais vistoso é o das armas, o
primeiro projeto que Bolsonaro enviou orgulhosamente ao Congresso. Mas há
outros.
São todos surpreendentes, como o que acaba com a
obrigatoriedade de cadeirinhas para crianças em carros, o que suspende os
radares móveis nas estradas, o que elimina dezenas de conselhos de diferentes
áreas, como Educação. Pelas estatísticas nacionais e internacionais,
cadeirinhas e radares salvam vidas e evitam sequelas graves. E o que falar de
conselhos? São para contrapor ideias e chegar às melhores propostas.
O Congresso também engavetou o “excludente de ilicitude”,
apelidado de “licença para matar” dada a policiais, e já há dois novos atritos
com Bolsonaro, o fundo eleitoral e a recriação da CPMF, ops!, a criação de um
imposto que não é a CPMF, mas é tão parecido que virou “CPMF digital”. Para
Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a chance de passar é
praticamente zero.
Se havia dúvidas, o motivo veio no meio da pesquisa
CNI/Ibope que captou o aumento da desaprovação e da desconfiança em relação ao
presidente. A área mais mal avaliada foi a dos impostos. É claro que a culpa
não é de Bolsonaro, mas a sociedade avisa que não aceita pagar mais impostos. O
Congresso já tinha entendido o recado.
E Maia foi irônico ao avisar que, se o presidente vetar a
proposta que ele próprio enviou ao Congresso, de um fundo eleitoral de R$ 2
bilhões para 2020, ok, ele pode vetar, mas o Congresso também pode derrubar o
veto. Guerra é guerra.
Mas nem tudo são espinhos para o presidente. Os juros estão
no seu menor patamar histórico, a inflação nem faz cosquinha, a geração de
empregos vem melhorando e a previsão de crescimento voltou a subir, depois de
despencar no meio do ano.
Last but not least, Bolsonaro espalha que Donald Trump
“desistiu” de sobretaxar o aço brasileiro depois de 15 minutos de conversa com
ele, mas aqui vai um bom bastidor: desde o início, Buenos Aires e Brasília
receberam sinais de Washington de que a ameaça de Trump não era para valer. Era
só uma “trumpada” para inglês, ou melhor, americano ver.
O problema é que, se os fatos não correspondem às versões,
danem-se os fatos. E Bolsonaro não vai desperdiçar a sua versão, que vem bem a
calhar para melhorar seu humor e desviar as atenções de MP, Flávio, Queiroz,
milícia, “rachadinha”. Os produtores de aço agradecem, o presidente solta
fogos.
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