O ministro da Justiça, Sergio Moro, é a mais bem avaliada
figura pública entre aquelas que a pesquisa XP-Ipespe acompanha periodicamente.
Numa escala de 0 a 10, os entrevistados lhe atribuíram nota média 6,2, superior
a de seu chefe Jair Bolsonaro, com 5,4, e do principal inimigo de ambos, Luiz
Inácio Lula da Silva, com 4,9.
Seu prestígio resistiu às devastadoras revelações do site
The Intercept sobre o facciosismo com que agiu, não raro na contramão da lei,
como juiz da Operação Lava Jato. Resistiu também à sua apagada atuação como
ministro submisso aos devaneios autoritários do presidente, e à derrota que lhe
impôs o Congresso, ao desmanchar boa parte de seu pacote anticrime.
A popularidade de Moro resulta das suas respostas simples —e
erradas— a dois problemas que tocam fundo os brasileiros comuns e para aos
quais nem os passados governos progressistas nem as forças de centro e esquerda
deram atenção devida, incapazes de formular discursos críveis e soluções
compatíveis com o respeito mínimo aos direitos individuais. Tais problemas,
como se sabe, são a corrupção política e a segurança dos cidadãos.
No primeiro caso, PT, PSDB e respectivos aliados, em conluio
com grandes empresas privadas, usaram sem pudor recursos públicos para
financiar as suas máquinas eleitorais, fechando os olhos quando, vez por outra,
as sobras escorregavam para os bolsos de dirigentes e operadores. Continuaram a
fazê-lo mesmo depois da irrupção de grandes escândalos, como o mensalão,
indiferentes, além do mais, às pesquisas que revelavam ampla rejeição às
práticas corruptas.
Deixaram, por outro lado, que o crime organizado expandisse
seus negócios nefastos, lado a lado com a criminalidade comum. Isso legitimou
perversamente a violência mal administrada da polícia, que se abate sem
distinção sobre suspeitos e inocentes.
Os pobres que são assaltados de madrugada nos pontos de
ônibus, que temem por seus filhos atraídos pelo tráfico ou recrutados pelas
facções que dominam as prisões superlotadas, ou ainda atingidos por balas
perdidas, anseiam por ordem e segurança. Trata-se de uma aspiração
inquestionável. O mesmo querem os mais bem aquinhoados, quando alcançados pela
violência que vem debaixo.
Eis as bases do prestígio de Sergio Moro: a
espetacularização do combate aos corruptos, o sinal verde para a violência
policial, o aumento das detenções e o endurecimento das condições carcerárias.
Seu prestígio persistirá enquanto as lideranças políticas
progressistas não forem capazes de chegar ao povo com palavras e propostas
novas.
*Maria Hermínia Tavares, professora titular aposentada de
ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
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