segunda-feira, 6 de abril de 2020

DIÁRIO DA CRISE XIII

Artigo de Fernando Gabeira
Entre algumas boas notícias que surgem nessa pandemia, destaco a decisão da empresa israelense Medtronic de liberar os direitos de seus respiradores, permitindo que sejam produzidos livremente no mundo.
Essa questão das patentes foi uma das mais delicadas e difíceis no tempo da AIDS. Alguns países, no auge da crise, precisavam das drogas e não havia como pagar o que os laboratórios queriam. Foi necessária muita negociação e, em alguns casos, a pura e simples quebra das patentes.
Infelizmente na pandemia de coronavírus muitos produtos, sobretudo os equipamentos de proteção individual, são produzidos na China e não há tempo hábil para converter algumas indústrias brasileiras para suprir essa falta.
O grande problema no mundo é a demanda por equipamentos de proteção individual e respiradores.
A Bahia comprou alguns respiradores da China mas eles pararam nos Estados Unidos. Possivelmente, a empresa chinesa recebeu uma oferta maior e decidiu romper o contrato com a parte brasileira.
Cerca de 40 cargueiros americanos foram a China para transportar os equipamentos médicos. Houve reclamação na França e o Brasil também foi postergado.
Algumas pessoas acham que há algo de ideológico nisto tudo. Mas é uma ilusão. Os chineses estão buscando o melhor preço. Se a questão fosse ideológica não destinariam a principal parte de sua produção para os EUA.
Não está havendo uma cooperação internacional à altura. Trump segue fiel ao seu slogan, America First, e está fazendo tudo para se abastecer em grande escala.
Apesar de tudo, creio que talvez fosse possível acionar a indústria do vestuário para um esforço de guerra. Ela poderia produzir máscaras e equipamentos de proteção individual.
Onde isto é mais difícil é no campo dos testes. A Fiocruz está produzindo mas dependemos de insumos estrangeiros e todos os países que os têm relutam em exportar.
Soube que existem mais de três mil respiradores danificados no Brasil. Não tenho condições de confirmar o número. Mas sei que uma prática comum em nosso sistema de saúde ter dinheiro para comprar e não conseguir fazer a manutenção.
É preciso um esforço nacional para recuperar o equipamento que ainda possa ser usado. E também é preciso aprender a lição. Mandetta considera este problema um problema de soberania nacional, ter condições internas de enfrentar uma pandemia, com o mercado retraído no mundo inteiro.
Um bom ponto de partida seria avaliar todo o equipamento estragado ou ocioso no Brasil e recuperá-lo. E não mais deixar que as coisas estragarem e sejam abandonadas.
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