Em seus arroubos
contra as instituições, o presidente Jair Bolsonaro gosta de se colocar como
fiel escudeiro da vontade popular. A proximidade com o cidadão comum seria seu
baluarte. Segundo o discurso bolsonarista, todo o restante seria secundário, o
importante seria a conexão do presidente Bolsonaro com o sentimento majoritário
da população brasileira, o que lhe autorizaria a fazer o que bem entender. O
povo estaria incondicionalmente ao lado de Bolsonaro – ao lado dessa
espontaneidade sem regras, freios ou protocolos.
Ainda que entusiasme
os camisas pardas, esse discurso está muito distante da realidade. Na verdade,
há algum tempo a maioria da população desaprova o modo como Jair Bolsonaro
governa. A maioria não está ao seu lado, como indica, entre outras sondagens, a
última pesquisa do Datafolha, realizada nos dias 25 e 26 de maio.
A avaliação do
presidente Jair Bolsonaro é ruim ou péssima para 43% dos brasileiros. É o maior
porcentual de rejeição desde o início do governo. Os que o consideram ótimo ou
bom são 33%; e regular, 22%. Na comparação com os outros três presidentes
anteriores – Fernando Henrique, Lula da Silva e Dilma Rousseff –, nesse mesmo
tempo de governo, Jair Bolsonaro tem a pior avaliação.
A respeito do
comportamento do presidente Jair Bolsonaro, 37% consideram que ele nunca se
comporta de forma adequada. Em posição oposta, 13% acham que Bolsonaro se
comporta adequadamente em todas as ocasiões. A rejeição é quase três vezes
maior, mostrando o equívoco de dizer simplesmente que o País está dividido em
relação a Bolsonaro. Há sim apoiadores do presidente, mas o fato é que existem
muito mais pessoas descontentes com seu modo de governar.
Quanto à avaliação
do desempenho do presidente da República em relação à pandemia, os números são
ainda piores para Jair Bolsonaro. Metade dos brasileiros (50%) avalia como ruim
ou péssimo o desempenho de Bolsonaro na pandemia. Aqueles que o consideram
ótimo ou bom são 27%; e regular, 22%. A esse respeito, são significativas as
quedas na avaliação positiva do Ministério da Saúde nos últimos dois meses,
após as demissões de Luiz Henrique Mandetta e de Nelson Teich. Jair Bolsonaro
pode achar que faz impunemente o que bem entender, mas a população não viu com
bons olhos a atuação presidencial na Saúde.
Outro dado é que,
para a maioria dos brasileiros (53%), o presidente da República tem
responsabilidade, em alguma medida, pelo avanço da pandemia. Para 33% dos
entrevistados, Bolsonaro é muito responsável pelo atual quadro; e para 20%, “um
pouco responsável”. Vê-se que a maioria da população não acha nenhuma graça com
o “e, daí?” de Bolsonaro, em relação ao número de mortes pela covid-19.
E não é apenas uma
única pesquisa a mostrar a rejeição a Bolsonaro. Realizada em 28 de maio, a
sondagem da XP/Ipespe aponta, por exemplo, que, para 49% dos brasileiros, o
governo de Bolsonaro é ruim ou péssimo; para 26%, ótimo ou bom; e para 23%,
regular. Novamente, fica evidente a desproporção da rejeição. O número de
pessoas que desaprovam o governo de Jair Bolsonaro é quase o dobro das que o
aprovam.
Com 17 meses de
governo, é evidente que a rejeição a Bolsonaro não é nenhuma torcida contra o
País ou para que o governo fracasse. É antes a decepção de quem, no início de
2019, nutria expectativas de que o novo governo pudesse trazer melhorias ao
País, mas que, decorrido menos de ano e meio, vê com cansaço um quadro
desolador de irresponsabilidades, ações destemperadas, conflitos desnecessários
e prevalência de interesses familiares.
Trata-se de um fato: a maioria da população não apoia o modo de Jair Bolsonaro governar. Além disso, está claro, a essa altura, que esse jeito de conduzir o País, criando continuamente conflitos com outros Poderes, não lhe traz nenhum apoio popular adicional. Não se pode nem mesmo dizer que Bolsonaro esteja consolidando uma base de apoio, pois esta é cada vez menor. O que cresce é a oposição a ele. Por que não fazer do jeito certo, governando dentro dos limites constitucionais, com planejamento, competência e responsabilidade? Talvez assim Bolsonaro experimentasse uma sensação inédita – a de ver crescer o número de pessoas que aprovam o seu governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário