O governo Bolsonaro é tão “sui generis” que deu férias para
a oposição. Ele mesmo se encarrega de sabotar a si próprio. Mas, se tivéssemos
uma oposição atuante, ela estaria agora empenhada em explorar ao máximo a
notícia, divulgada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, de que Flávio
Bolsonaro usou dinheiro vivo supostamente recolhido por Fabrício
Queiroz em gastos pessoais.
É uma situação de puro simbolismo. Verbas públicas desviadas
para o pagamento de despesas indisfarçavelmente pessoais como a escola das
filhas e o plano de saúde da família são, no imaginário popular, a definição
mesma de corrupção.
A confirmar-se uma denúncia sólida de envolvimento do filho número
um num caso de desvio de dinheiro público, vai-se uma das últimas
racionalizações ainda usadas pelo eleitor não arrependido de Bolsonaro: “pelo
menos é honesto”. A honestidade, afinal, exigiria do primeiro mandatário, senão
que denunciasse
o próprio rebento, ao menos que não violasse princípios republicanos para
protegê-lo.
Uma a uma, estão caindo todas as bandeiras defendidas por
Bolsonaro durante a campanha eleitoral. A retórica antissistema se foi com a
aliança com o centrão. O discurso liberal é cada vez mais escanteado, em parte
porque a epidemia exige mesmo maior atuação do Estado, em parte porque a conversão
de Jair nunca foi autêntica. A promessa de combater a corrupção, que já sofrera
abalo com a demissão
de Sergio Moro, vira agora migalhas.
É difícil vislumbrar um futuro tranquilo para o governo.
Hoje, só temos duas certezas: a economia ainda vai piorar bastante e a epidemia
vai fazer muito mais vítimas antes de refluir. Nenhuma delas sugere dias fáceis
para Jair Bolsonaro.Hélio Schwartsman
*Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”.
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