Diário da Crise LXXIII
Hoje publiquei um artigo no Globo intitulado Acabou,
Acabamos. Algumas pessoas me ligaram perguntando se meu diagnóstico sobre o
perigo de um golpe não era exagerado.
Disse a elas que estava apenas acumulando indícios que vão
desde o trabalho de Bolsonaro para seduzir as Forças Armadas, passando pela
presença maciça de militares no governo, cerca de 3 mil, pela ocupação militar
do Ministério da Saúde, desalojando médicos e especialistas.
No meu entender, se as Forças Armadas encampam a desastrosa
política sanitária de Bolsonaro é porque aceitam o desgaste dos milhares de
mortes que ela está favorecendo.
Aos amigos que questionam, tenho dito que existe uma linha
muito tênue entre a boa fé a ingenuidade. Ultrapassar esta linha pode ser
problemático para nosso futuro imediato. Digo imediato porque meu trabalho é
também preventivo. Não acredito que aguentem muito tempo no governo, num país
arrasado pelas crises econômica, social e sanitária.
Já havia escrito o artigo de segunda no Globo quando vi a
manifestação em Brasília, pedindo o fechamento do Supremo e Congresso, através
de uma intervenção militar.
Sabem quem estava no helicóptero de Bolsonaro quando ele
baixou para saudar a manifestação? O Ministro da Defesa, general Fernando
Azevedo.
Imaginem em que país, um Ministro da Defesa vai a
manifestações que pedem o fechamento do Congresso e STF sem que as pessoas se
alarmem?
Isso não existe numa democracia. De um modo geral, Ministro
da Defesa não vai à manifestações, quanto mais aquelas que têm um conteúdo
nitidamente golpista.
Quatro generais, inclusive o próprio Ministro da Defesa,
ouviram inertes o Bolsonaro dizer que quer armar a populacão para que ele se
expressa políticamente e derrube a quarentena.
Nenhum deles pareceu supreendido. Isto é um escândalo. As
Forças Armadas constitucionalmente não podem aceitar essa tática bolsonarista.
Além do mais, ela é reprovada por 72 por cento da populacão.
Portanto, amigos, talvez seja mais fácil perdoar um possível exagero nas minhas palavras do que perdoar a omissão diante dessa trama contra a democracia brasileira, que, aos meus olhos, se desenrola com uma cristalina nitidez.
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