segunda-feira, 1 de junho de 2020

DIÁRIO DA CRISE

Do Blog do Gabeira

Diário da Crise LXXIII

Hoje publiquei um artigo no Globo intitulado Acabou, Acabamos. Algumas pessoas me ligaram perguntando se meu diagnóstico sobre o perigo de um golpe não era exagerado.

Disse a elas que estava apenas acumulando indícios que vão desde o trabalho de Bolsonaro para seduzir as Forças Armadas, passando pela presença maciça de militares no governo, cerca de 3 mil, pela ocupação militar do Ministério da Saúde, desalojando médicos e especialistas.

No meu entender, se as Forças Armadas encampam a desastrosa política sanitária de Bolsonaro é porque aceitam o desgaste dos milhares de mortes que ela está favorecendo.

Aos amigos que questionam, tenho dito que existe uma linha muito tênue entre a boa fé a ingenuidade. Ultrapassar esta linha pode ser problemático para nosso futuro imediato. Digo imediato porque meu trabalho é também preventivo. Não acredito que aguentem muito tempo no governo, num país arrasado pelas crises econômica, social e sanitária.

Já havia escrito o artigo de segunda no Globo quando vi a manifestação em Brasília, pedindo o fechamento do Supremo e Congresso, através de uma intervenção militar.

Sabem quem estava no helicóptero de Bolsonaro quando ele baixou para saudar a manifestação? O Ministro da Defesa, general Fernando Azevedo.

Imaginem em que país, um Ministro da Defesa vai a manifestações que pedem o fechamento do Congresso e STF sem que as pessoas se alarmem?

Isso não existe numa democracia. De um modo geral, Ministro da Defesa não vai à manifestações, quanto mais aquelas que têm um conteúdo nitidamente golpista.

Quatro generais, inclusive o próprio Ministro da Defesa, ouviram inertes o Bolsonaro dizer que quer armar a populacão para que ele se expressa políticamente e derrube a quarentena.

Nenhum deles pareceu supreendido. Isto é um escândalo. As Forças Armadas constitucionalmente não podem aceitar essa tática bolsonarista. Além do mais, ela é reprovada por 72 por cento da populacão.

Portanto, amigos, talvez seja mais fácil perdoar um possível exagero nas minhas palavras do que perdoar a omissão diante dessa trama contra a democracia brasileira, que, aos meus olhos, se desenrola com uma cristalina nitidez.

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