Aparentemente, o presidente Jair Bolsonaro deixou a rota de
iminente colisão contra os demais poderes. A mudança ocorreu após forte reação
das lideranças do Congresso e dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF),
mas, sobretudo, após a prisão de Fabrício Queiroz, seu amigo, ex-assessor
parlamentar de seu filho Flávio Bolsonaro (PR), quando o senador ocupava uma
cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ambos são investigados no
caso das rachadinhas daquela Casa legislativa. Dois fatos assinalam a mudança
de curso: a nomeação do novo ministro da Educação, o economista Carlos Alberto
Decotelli da Silva, e a passagem para a reserva do general de divisão Luiz
Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, que anunciou a intenção na
reunião do Alto Comando do Exército, ontem.
Decotelli substituirá Abraham Weintraub, protagonista de uma
gestão espalhafatosa e desastrosa à frente da pasta, com uma narrativa
ideológica afinada com o grupo de extrema direita liderado pelo escritor Olavo
de Carvalho, guru dos filhos de Bolsonaro. Como prêmio de consolação, o
ex-ministro foi indicado para o posto de diretor representante do Brasil no
Banco Mundial, mas sua nomeação está sendo questionada por funcionários do
órgão. Até para sair do país e entrar nos Estados Unidos, Weintraub foi
atabalhoado, pois viajou como se ainda fosse ministro, quando já havia deixado
o cargo. Comportou-se como um fugitivo. Weintraub é investigado por causa de
suposto envolvimento com grupos de extrema direita que ameaçavam ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), a quem chamou de “vagabundos”, na reunião
ministerial de 22 de abril passado.
Primeiro ministro preto do governo Bolsonaro, Decotelli será
o terceiro titular da pasta em menos de 1 ano e meio. O primeiro ocupante do
posto foi Ricardo Velez, que permaneceu apenas três meses no cargo. Oficial da
reserva não-remunerada da Marinha, o novo ministro atuou na Escola de Guerra
Naval como professor. Bacharel em ciências econômicas pela Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), é mestre pela Fundação Getulio Vargas (FGV),
doutor pela Universidade de Rosário (Argentina) e pós-doutor pela Universidade
de Wuppertal, na Alemanha. Tem um perfil muito mais de gestor do que de
educador, sua nomeação é uma esperança de um comportamento mais conciliador e
menos ideológico à frente da pasta, embora seja um conservador e tenha apenas
breve passagem pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre
fevereiro e agosto do ano passado. Depois, comandou a Secretaria de Modalidades
Especializadas do Ministério.
Verde-oliva
Outra notícia importante foi o anúncio de que o general de exército Luiz
Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo e principal articulador
político do Planalto, passará à reserva. Ele já havia anunciado essa intenção,
mas só agora foi oficializada. Sua situação era um fator de tensão entre o
presidente Jair Bolsonaro e o Alto Comando, porque circulavam rumores de que o
presidente da República pretendia nomeá-lo para o Comando do Exército, no lugar
do general Edson Leal Pujol. Ramos era o 6º na hierarquia de comando, o que
resultaria na passagem antecipada para a reserva dos principais generais hoje
na ativa. Bolsonaristas fomentavam a intriga, provocando mal-estar entre os
militares.
Pelo regulamento atual, militares da ativa somente podem
permanecer dois anos fora dos quadros regulares de comando, mesmo ocupando
função para as quais, tradicionalmente, são designados militares, no Ministério
da Defesa, criado originalmente para ser chefiado por uma autoridade civil, no
Gabinete de Segurança Institucional e na Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República. A situação era meio esquizofrênica, porque Ramos é um
dos ministros mais poderosos do governo Bolsonaro e, ao mesmo tempo, era
subordinado a Pujol na hierarquia militar. Outro alto oficial da ativa
praticamente na mesma situação é o ministro interino da Saúde, Eduardo
Pazuello, general de divisão.
Ambos são ligados ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo, como o ministro-chefe da Casa Civil, Braga Neto, que também era do Alto Comando, mas passou à reserva logo após assumir o cargo. Quando Azevedo foi o comandante do Leste, Ramos comandou a Vila Militar; Pazuello, a Brigada de Paraquedistas; e Braga Neto era o chefe de Estado-Maior.
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