Quando o general Villas Bôas tentou emparedar o Supremo às
vésperas da eleição presidencial, Celso de Mello foi o único ministro a
protestar. Não é coincidência que ele seja, agora, a principal voz contra o
cerco bolsonarista à Corte.
Em abril de 2018, o então comandante do Exército disparou um
tuíte em tom de ameaça. Insinuou uma reação armada caso o tribunal concedesse
habeas corpus a um pré-candidato ao Planalto.
O decano se levantou contra a interferência indevida.
“Insurgências de de natureza pretoriana, à semelhança da ideia metafórica do
ovo da serpente, descaracterizam a legitimidade do poder civil instituído e
fragilizam as instituições democráticas”, afirmou.
Contra o voto de Celso, o Supremo negou o habeas corpus. A
decisão satisfez o general e facilitou a eleição do candidato preferido dos
militares.
Dois anos depois, o decano voltou a usar a metáfora sobre a
ascensão do nazismo. Em mensagem privada aos colegas, ele advertiu que o ovo da
serpente “parece estar prestes a eclodir no Brasil”. “É preciso resistir à
destruição da ordem democrática”, escreveu.
O ministro advertiu que “intervenção militar, como
pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a
liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua
bolsonarista, senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta
ditadura militar”.
Celso encerrou o alerta com quatro pontos de exclamação, mas
ainda há quem finja que não ouviu.
Em 1999, o então deputado Jair Bolsonaro revelou seu plano
para o Brasil: “Só vai mudar, infelizmente, quando partirmos para uma guerra
civil aqui dentro. E fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando
uns 30 mil (…) Se vai morrer alguns inocentes? Tudo bem, tudo quanto é guerra
morre inocente”.
Ontem o país ultrapassou as 30 mil mortes pelo coronavírus. Horas antes, o capitão declarou: “Eu lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”.
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