Nas palavras do ministro Paulo Guedes (Economia) foi uma
ideia “espetacular” do presidente Jair Bolsonaro a proposta de estender o
auxílio emergencial por três meses em parcelas de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. De
tão estupenda, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) não se conteve. Num
—improvável— lapso, antecipou nas redes sociais medida que horas mais tarde
coube ao chefe anunciar, sem oficializar.
Decerto, Ramos não é um tolo a atropelar por descuido a
hierarquia do Palácio do Planalto. Assim como Guedes não acha a proposta lá
essas coisas —há algumas semanas defendia apenas R$ 200 por um, dois meses. E
Bolsonaro está longe de ser uma mente privilegiada, segundo avaliam 54% dos
eleitores no Datafolha. Recentemente chegou a dizer que vetaria qualquer valor
aprovado pelo Congresso que superasse duas parcelas de R$ 300.
Diante do abismo da desigualdade social, que se acentua com
os efeitos da pandemia, o governo revela inabilidade em lidar com o tema.
Pressionado a prorrogar o auxílio emergencial e vendo avançar o debate na
sociedade e no Legislativo pela criação de um programa de renda mínima
permanente, passa a agitar canhestramente bandeira que nunca empunhou.
Em ritmo acelerado, prepara o Renda Brasil a reboque da
visibilidade conquistada com o auxílio de R$ 600. O programa se propõe
ambicioso na sucessão do Bolsa Família, via extinção de iniciativas sociais,
como o seguro-defeso e o abono salarial.
Por descrer em políticas de transferência de renda como
solução, receberá de braços abertos os beneficiários do Renda Brasil, mas já
com o dedo a lhes indicar a porta da rua. Num eufemismo guediano, a saída do
novo programa ganha nome de “rampa de acesso”. Quem por ela passar, estará
habilitado a um plano de empregos para pessoas de baixa renda e sem
qualificação. Será possível ao empregado manter o benefício assistencial, com
valor menor.
Haverá poucos direitos e encargos trabalhistas reduzidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário