Padre celebridade é alvo de operação que apura desvio de
doações de fiéis
O padre celebridade Robson de Oliveira Pereira, que costuma
reunir multidões em suas missas pelo Brasil, pediu afastamento de suas funções
após ser alvo, nessa sexta (21), de uma operação
que apura supostos desvios de doações de fiéis a associações católicas
fundadas e presididas por ele.
Segundo o Ministério Público de Goiás, as entidades vêm
sendo geridas como empresas, envolvendo movimentações
financeiras que somam R$ 1,7 bilhão, a compra e venda de casas,
apartamentos e fazendas em diversos estados e a exploração de atividades como
agropecuária e mineração.
Parte dos valores doados estariam sendo usados para pagar
despesas pessoais dos investigados e não para propósitos religiosos, dizem os
promotores, como a compra de uma casa de luxo na Praia de Guarajuba, na Bahia.
Os crimes apurados são organização criminosa, apropriação indébita, lavagem de
dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal.
A apuração tem como alvo a Associação Filhos do Pai Eterno
(Afipe), a Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro e a Associação
Pai Eterno e Perpétuo Socorro, além de "uma rede de empresas e pessoas que
foi criada para a realização das possíveis fraudes", diz a promotoria.
Na operação, batizada de Vendilhões, foram cumpridos 16
mandados de busca e apreensão na sede das entidades, em empresas e em
residências em Goiânia e Trindade. O município, a 23 km da capital, abriga
a Basílica
do Divino Pai Eterno, que atrai milhares de fiéis, é mantida pela Afipe e
tem o padre Robson como reitor.
O Ministério Público chegou a pedir a prisão preventiva do
pároco, mas o pedido foi negado pela juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos
Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais. Foram bloqueados
judicialmente R$ 60 milhões em imóveis e contas bancárias dos envolvidos.
Os agentes encontraram uma quantia em dinheiro nos imóveis,
que ainda estava sendo contabilizada.
A investigação teve início em 2019, quando um grupo foi
condenado por ter praticado extorsão contra o padre Robson. Na ocasião, o
religioso pagou R$ 2 milhões a cinco pessoas que hackearam seu computador e seu
celular. Eles ameaçaram divulgar imagens e mensagens com informações pessoais,
amorosas e profissionais, segundo os investigadores.
A partir daí, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate
ao Crime Organizado) passou a apurar a origem de parte do dinheiro que o padre
usou para pagar os criminosos e descobriu "uma grande teia de
movimentações financeiras", segundo o promotor Sebastião Marcos Martins.
O padre Robson de Oliveira nasceu e foi criado em Trindade,
onde entrou para o seminário aos 14 anos. Ele também morou na Irlanda e em
Roma, onde fez mestrado em Teologia Moral na Universidade do Vaticano.
Voltou ao Brasil em 2003 e assumiu a reitoria do então
Santuário do Divino Pai Eterno, fundando a Afipe no ano seguinte. Hoje com o
título de basílica concedido pelo Papa Bento 16, a unidade tem cerca de 2.500
lugares e aguarda a construção de outra sede com capacidade para mais 6.000
pessoas —erguida com doações de fiéis.
A Afipe também tem uma rádio e o canal de televisão TV Pai
Eterno, fundada em 2019. São 24h de programação religiosa disponíveis em sinal
aberto para cerca de 1.800 cidades ou por meio de antena parabólica no Brasil e
no exterior.
A Arquidiocese de Goiânia divulgou nota afirmando que foi
surpreendida com a operação. Disse ainda que está “aberta para apurar, com
transparência, quaisquer denúncias em desfavor de seus membros”.
A organização informou que o padre Robson pediu o
afastamento de suas funções na basílica e na Afipe até que os fatos sejam
esclarecidos. Ele será substituído pelo padre André Ricardo de Melo, provincial
dos Missionários Redentoristas de Goiás.
A Folha tentou contato com a Afipe por
telefones e e-mails neste sábado (22), mas não obteve resposta.
Segundo
a revista Época, o advogado da associação, Klaus Marques, declarou que
todos os negócios da entidade estão contabilizados e que a compra de fazendas,
apartamentos e postos de combustíveis são investimentos, aplicados
integralmente na entidade.
"A Afipe tem diversas atividades fim, uma delas é a
evangelização pelos meios de comunicação. Vocês devem conhecer a rádio Pai
Eterno, mais recentemente a TV, um enorme conglomerado comunicacional que custa
dinheiro”, disse.
“Para que a Afipe pudesse ter tudo isso ela precisou de
recursos. A questão toda era: vou manter todos os recursos que eu recebo dos meus
fiéis no banco, com taxa Selic de 2% ao ano, ou vou fazer aplicações em outros
mercados e ter rendimentos maiores?", continuou o advogado.
Já a defesa do padre Robson afirmou em um entrevista à
imprensa que o religioso está "chateado com acusações, mas tranquilo".
O advogado Pedro Paulo Medeiros declarou que seu cliente lhe falou que “aquele
que anda com verdade não tem o que temer com acusações”, segundo
o site G1.
A Afipe e o padre disseram que estão à disposição do
Ministério Público.
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