E a festa marcada para esta manhã no Palácio do Planalto que
celebraria o sucesso do governo Bolsonaro no combate ao Covid-19? Seria aberta
à imprensa. Continuará sendo? Está mantida? E se um jornalista resolver
perguntar ao presidente porquê Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia Aguiar
depositaram 89 mil reais na conta de Michelle, a primeira-dama?
Alguns poucos bolsonaristas de raiz exultaram com a reação
de Bolsonaro à pergunta de um repórter feita quando ele saía, ontem, de mais
uma visita dominical à Catedral de Brasília. Sempre que sabe há aglomeração de
turistas à porta da catedral, Bolsonaro vai até lá a pretexto de rezar. É mais
uma oportunidade para tirar fotos com apoiadores, abraçar criancinhas e
distribuir sorrisos.
Tudo teria saído como previsto não fosse a pergunta que o
deixou furioso: “Presidente, porquê Queiroz depositou 89 mil reais na conta de
dona Michelle?” A pergunta era mais do que pertinente. No final de 2018, quando
o Ministério Público Federal do Rio revelou que Queiroz depositara 24 mil reais
na conta de Michelle, Bolsonaro espontaneamente correu a explicar-se.
Jurou que o dinheiro era o pagamento de uma dívida contraída
por Queiroz com ele. Lembrou que os dois eram amigos há mais de 30 anos e que
não era a primeira vez que emprestara dinheiro a Queiroz. Semanas depois, sem
que ninguém lhe perguntasse, corrigiu-se. A dívida não era de 24 mil, mas de 40
mil. Mas não adiantou se ela foi paga integralmente.
Num primeiro momento, a pergunta do repórter ficou sem
resposta. Enquanto caminhava, Bolsonaro comentou com os seguranças que o
cercavam que ainda daria uma porrada “na boca daquele cara”. Como o repórter
repetiu a pergunta, finalmente encarou-o e disse: “Minha vontade é encher sua
boca de porrada”. Em seguida, pressionado pelos seguranças, foi para casa.
“Ele voltou! Ele voltou!”, transbordavam de felicidade
apressados bolsonaristas nas redes sociais antes de serem sufocados por
milhares de mensagens em sentido contrário que se limitavam a reproduzir a
pergunta do repórter. Não teve mais para nada. A hashtag Queiroz reinou
soberana durante pelo menos 8 horas como o assunto mais comentado do Twitter no
Brasil.
Por que tamanho espanto diante da ameaça do presidente de
encher a boca de um jornalista com porrada? Até começar a fingir ser o que não
é, Bolsonaro defendeu a tortura, o torturador Brilhante Ustra, lamentou que a
ditadura não tivesse matado um número maior de presos políticos e quase foi
condenado por dito que só não estuprava uma deputada porque ela era feia.
Bolsonaro reconciliou-se, afinal, com ele mesmo. Deve estar
se sentindo muito melhor, mais leve, mais à vontade para frustração dos que
imaginavam tê-lo convertido em um presidente normal. Tirou um peso insuportável
nas costas. Se quiser, vai retomar o hábito de mandar jornalista calar a boca,
provocar a Justiça, hostilizar o Congresso e bater no Centrão.
Êpa! Chega de exagero. Ameaçar encher a boca de jornalista
com porrada não é motivo para abertura de processo de impeachment, concluiu o
deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Provocar a Justiça não seria
recomendável, pois dela dependem as investigações sobre seus filhos. Tampouco
bater no Centrão do qual depende hoje para aprovar projetos no Congresso.
É hora de Bolsonaro dar mais força a Paulo Guedes, o
ministro da Economia. Se fizer isso, todos os pecados lhe serão perdoados pelos
que de fato mandam no país. Vida que segue até a próxima recaída.
O governo nada em dinheiro quando é para atender aos
militares
Gasto polêmico
O Ministério da Defesa já empenhou 145,3 milhões de reais para a compra de um microssatélite que fará o monitoramento da devastação da Amazônia, segundo o jornal GLOBO.
O Ministério da Defesa já empenhou 145,3 milhões de reais para a compra de um microssatélite que fará o monitoramento da devastação da Amazônia, segundo o jornal GLOBO.
Tudo estaria certo, tudo muito bem, não fosse por um fato: o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão do governo, tem um microssatélite
tão ou mais moderno e já faz esse serviço.
O custo do microssatélite para que os militares possam
chamar de seu é 48 vezes maior do que a verba prevista no Orçamento deste ano
para projetos de monitoramento da área e risco de incêndios.
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