Bolsonaro ameaça bater em repórter e rede faz eco à
pergunta: “Por que Michelle recebeu 89.000 reais do Queiroz?”
O presidente Jair
Bolsonaro voltou a atacar a imprensa neste domingo, e desta vez
disse ter vontade de “encher de porrada” um repórter. O motivo para a ameaça
foi ter sido questionado, por um jornalista de O Globo, sobre os
motivos pelos quais Fabrício Queiroz, ex-assessor do seu filho Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ) e investigado por confisco de salários de
servidores, ter repassado 89.000 reais para a conta da primeira-dama
Michelle Bolsonaro. A informação foi revelada por uma reportagem da
revista Crusoé.
Em um primeiro momento, de acordo com o jornal Folha
de S. Paulo, o presidente rebateu perguntando ao jornalista sobre
os supostos repasses mensais feitos pelo doleiro Dario Messer,
preso na Operação Lava Jato e agora colaborador da Justiça, à família Marinho,
proprietária da Rede Globo e do jornal O Globo. Após a insistência
do repórter sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro respondeu: “A
vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?”. O mandatário foi indagado por
mais essa agressão a um profissional de imprensa. Mas ele ignorou os
questionamentos. Jogou por terra, também, a ideia de que está se ajustando ao
decoro do cargo.
Com um histórico longo de agressões verbais a jornalistas,
ao vivo e nas redes sociais, o presidente teve de encarar uma reação imediata
desta vez. Assim que a notícia com e a ameaça circulou, um movimento ganhou o
Twitter: repetir a pergunta feita pelo profissional do Globo: “presidente
Jair Bolsonaro, por que sua esposa, Michelle, recebeu 89.000 de Fabrício
Queiroz?” Jornalistas, artistas e até políticos aderiram ao movimento. Do
deputado Major Olímpio, ex aliado do presidente, a parlamentares do Partido
Novo, até atrizes globais como Bruna Marchezine e Paolla de Oliveira. O tema
foi parar nos assuntos mais comentados da rede e ganhou a adesão até em forma
de desenho. A cartunista Laerte desenhou a pergunta que o mandatário não quis
responder. Segundo Fabio Malini, pesquisador das mídias sociais, a pergunta foi
repetida no twitter a cada 40 segundos. Ao final, foram mais de 1 milhão
mensagens com a mesma pergunta.
O escândalo envolvendo Fabricio Queiroz, ex-assessor por
anos da família Bolsonaro pressiona o Planalto. A investigação principal é
contra o senador Flávio Bolsonaro que, assim como Queiroz, é
alvo de um inquérito que apura se houve confisco de parte de salários dos
servidores e lavagem de dinheiro. A trama, no entanto, é mais complexa por
causa de depósitos do ex-assessor e família feitos à primeira-dama.
A Crusoé revelou que o ex-assessor do
senador Flávio e ex-policial militar Fabrício Queiroz depositou pelo
menos 21
cheques na conta de Michelle. As transações, feitas entre 2011
e 2018. Conforme a revista, as transferências foram identificadas na quebra de
sigilo bancário de Queiroz.A revelação contraria a versão dada pelo presidente
Bolsonaro de que o depósito no valor de 24.000, desde dezembro de 2018 era
parte do pagamento de um empréstimo de 40.000 que fizera ao ex-policial. Desde
que esses novos valores foram revelados, Bolsonaro não apresentou a razão dos
depósitos terem ocorrido para sua mulher.
Protesto de entidades
Só no primeiro semestre de 2020, presidente Bolsonaro fez
245 ataques contra o jornalismo. O monitoramento foi feito pela Federação
Nacional dos Jornalistas. Conforme a instituição, foram 211 casos de
descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques
contra a federação. “É lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma
agressiva e destemperada a uma pergunta de jornalista. Essa atitude em nada
contribui com o ambiente democrático e de liberdade de imprensa previstos pela
Constituição”, protestou Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de
Jornais (ANJ). “É uma tentativa de intimidação da imprensa, buscando impedir
questionamentos incômodos”, disse o presidente da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), Paulo Jeronimo.
Também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou ao O
Globo que “a liberdade de imprensa é um valor inegociável numa democracia”.
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