Os áudios com o desabafo de Márcia de Aguiar, mulher de
Fabrício Queiroz, divulgados pela VEJA, deixam claro que ela e o marido
sentiam-se como prisioneiros de Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro
e do seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. Uma história bem diferente da
contada pelo advogado quando a polícia prendeu Queiroz em sua casa no município
paulista de Atibaia.
Na versão de Wassef, ele se comoveu com a situação de
Queiroz a quem nunca vira antes, procurou-o sem que ninguém o orientasse a fazê-lo
e ofereceu abrigo para ele, sua mulher e parentes. Só por “razões
humanitárias”, como disse. Queiroz tornara-se um dos homens mais procurados do
país pela imprensa, e mais tarde, pelo Ministério Público Federal do Rio que
queria interrogá-lo.
Por que Queiroz e a mulher aceitariam a oferta de abrigo
feita por um desconhecido? Por que passariam a confiar em um homem que emergiu
assim do nada, sem que ninguém o recomendasse? Não faria o menor sentido.
Elementar: Wassef deve ter sido bancado por alguém com bastante influência
sobre o casal Queiroz. E não é tão difícil imaginar quem foi direta ou
indiretamente.
Os áudios de Márcia datam de novembro do ano passado quando
ela e o marido eram hóspedes de Wassef, mantidos numa espécie de cativeiro e
contrariados por serem impedidos de sair de lá. Em conversas com a advogada Ana
Flávia Rigamonti, contratada por Wassef para vigiá-los junto com um empregado
da casa, Márcia traiu toda a sua insatisfação com a vida que levava.
Contou que, ao longo de um ano, fora obrigada a abrir mão de
sua vida particular, privar-se de ir ao médico até para fazer exames de rotina
e, em alguns momentos, não podia sequer utilizar o celular. As medidas
cautelares foram ditadas pelo “Anjo”, codinome de Wassef, segundo o Ministério
Público Federal, empenhado em manter sob segredo o paradeiro de Queiroz.
“A gente não é foragido. Isso está acabando comigo, amiga,
acabando. De boa mesmo. Está acabando”, diz Márcia a Ana Flávia. “Está me
destruindo por dentro. Eu estou aqui me desabafando, porque não consigo passar
isso para ele [Queiroz]. E a minha preocupação é esse stress, esse emocional
dele abalado, piorar a situação dele com essa doença”.
Ana Flávia retruca: “Eu sei que ele não está bem. Ele está
tentando se distrair. Mas a gente sabe que não está fácil. (…) Ele mesmo falou
para o Anjo: ‘Olha, eu não estou aguentando mais. Quero ir para minha casa’”. E
Márcia completa: “Eu estou vendo que todo mundo está vivendo a sua vida. Agora,
a gente não. Então, somos foragidos para viver fugindo? Não é possível isso,
entendeu?”
Márcia não estava com Queiroz quando ele foi preso em 19 de
junho último. Havia uma ordem de prisão contra ela. Márcia fugiu e só
reapareceu quando o marido deixou a cadeia no dia 10 de julho para cumprir
prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. Desde então ela está ao lado
dele, também com tornozeleira. O Ministério Público Federal aposta que um deles
acabará delatando.
A prisão de Queiroz foi responsável pela radical mudança de
comportamento do presidente Bolsonaro. Saiu de cena o incendiário, o promotor
de crises, o falastrão, o agitador que marcava presença em manifestações de rua
hostis à democracia. Entrou em cena o presidente moderado, que loteia cargos do
governo com os partidos e chama os parlamentares de “sócios”.
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