O Partido Republicano e o Democrata oficializaram seus
candidatos à presidência dos Estados Unidos para as eleições de novembro. As
candidaturas de Donald Trump e Joe Biden não apenas trazem propostas políticas
diferentes para os EUA, mas representam modos distintos de tratar a democracia
e a própria cidadania. Os discursos de encerramento das duas convenções
partidárias ilustraram essa disparidade, mostrando o que será decidido nas
próximas eleições americanas.
A mensagem central do discurso de Joe Biden foi a promessa
de unir os EUA. “Embora eu seja um candidato democrata, serei um presidente
americano”, disse, afirmando que, se for eleito, trabalhará para todos os
eleitores, tenham ou não votado nele. “Muita raiva, muito medo e muita
divisão”, disse Biden a respeito do atual governo.
Em seu discurso, Joe Biden disse que os EUA enfrentam
atualmente quatro crises históricas – a recessão econômica, a pandemia de
covid-19, o clamor por justiça social e as mudanças climáticas. “É uma
tempestade perfeita”, disse. Ao mesmo tempo, o candidato democrata afirmou que
o atual governo tem estado muito aquém desses desafios. Citou, como exemplo, a
falta de planejamento para enfrentar a covid-19, acusando Trump de ter falhado
em sua obrigação mais básica como presidente dos EUA, a de proteger os
americanos da doença. O país tem 5,8 milhões de infectados e 180 mil mortos em
decorrência do vírus.
A respeito da questão racial – que ganhou especial
repercussão desde o assassinato de George Floyd, no final de maio, por um policial
–, Biden falou da “mancha do racismo” em “nosso caráter nacional”. Uma das
propostas do candidato democrata é a realização de uma reforma do sistema de
justiça, com o objetivo de reduzir o número de pessoas encarceradas e eliminar
disparidades em função de raça e de gênero.
Na questão ambiental, Biden assumiu o compromisso de
desenvolver uma economia de energia limpa, também como oportunidade de
crescimento econômico e de geração de empregos. Uma das medidas anunciadas é o
retorno dos EUA ao Acordo do Clima de Paris, denunciado pelo atual governo em
2017.
Por sua vez, o presidente republicano Trump parece dobrar a
aposta no conflito, na desinformação e no medo. Se em 2016 Donald Trump chegou
à presidência dos EUA prometendo deportar todos os imigrantes ilegais e
construir um muro na fronteira com o México, agora ele apresenta Joe Biden como
ameaça nacional. “Biden não é o salvador da alma americana, ele é o destruidor
dos empregos americanos, com o risco de ser o destruidor da grandeza
americana”, disse Trump no discurso de encerramento da convenção do Partido
Republicano.
Em sua fala, Trump recorreu à desinformação. Disse, por
exemplo, que, se a oposição ganhar as eleições, o governo vai tirar recursos da
polícia, demolir os subúrbios, confiscar armas e nomear juízes que não
respeitarão as liberdades constitucionais. “Essa eleição vai decidir se
salvamos o sonho americano ou se deixamos uma agenda socialista demolir nosso
querido destino”, disse Trump. Assegurou ainda uma vacina contra o coronavírus
até o fim do ano “ou antes”.
Diante das campanhas e das duas plataformas, é evidente que
se pode apontar inconsistências e fragilidades nas propostas de Joe Biden, que
está longe de ser um candidato perfeito. No entanto, há uma diferença
fundamental a distinguir as duas candidaturas – a postura em relação à
política. Donald Trump trata o adversário como um inimigo a ser abatido com
mentiras e distorções. Essa falta de compromisso com a realidade é uma ofensa à
democracia. O eleitor deve ser convencido, e não enganado.
É uma pena que o Partido Republicano, com tão rica história
em defesa das liberdades e da democracia, esteja enredado nesse amesquinhamento
da política e da vida pública promovido por Donald Trump. Não por outra razão,
importantes lideranças republicanas manifestaram apoio a Joe Biden. Mais do que
abraçar as propostas democratas, tal atitude é uma defesa da civilidade e da
democracia. Numa eleição, há pontos inegociáveis. O respeito ao cidadão é um
deles.
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