Jair Bolsonaro voltou a dar chilique ao ser questionado
sobre os rolos da família. No domingo, um repórter do GLOBO perguntou por que
Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama. O presidente
fez careta, chamou o jornalista de “safado” e ameaçou silenciá-lo na base da
“porrada”. Só não quis explicar a transação suspeita.
Bolsonaro já havia apresentado uma versão capenga para os
cheques de Michelle. Em dezembro de 2018, ele disse ter emprestado R$ 40 mil ao
ex-PM. O dinheiro teria sido devolvido à primeira-dama porque o capitão, muito ocupado,
não tinha tempo de ir ao banco.
No domingo, o presidente foi confrontado com mais uma
história mal contada: o valor pingado na conta de Michelle foi mais que o dobro
do admitido. Sem resposta, Bolsonaro agrediu o autor da pergunta. Reação típica
de quem não consegue se explicar.
O capitão mirou no jornalista, mas acertou o próprio pé. Ao
destratar o repórter, ele chamou mais atenção para os repasses à primeira-dama.
A pergunta sobre os R$ 89 mil se espalhou nas redes. Milhões de brasileiros
ficaram sabendo do que o presidente tentava esconder.
O novo ataque à imprensa mostra que é tolice acreditar na
fantasia de um Bolsonaro moderado. Nos últimos dois meses, vendeu-se a ideia de
que o presidente teria abandonado o extremismo e as ameaças de golpe. O
candidato a ditador teria aprendido, enfim, a conviver com a democracia.
Não era moderação, era medo da polícia. Bolsonaro adotou a
tática do silêncio quando Queiroz foi preso. Bastou o sargento sair da cadeia
para o capitão voltar a ser quem sempre foi. Um político autoritário, que
trabalha para implodir o sistema que o elegeu.
O presidente tenta calar a imprensa porque não tolera ser
fiscalizado. Quer destruir os freios e contrapesos que limitam o exercício do
poder. Sua meta é governar uma nação de bajuladores, como os que foram
aplaudi-lo ontem no Planalto. Com 115 mil mortos, o governo promoveu uma
cerimônia para cantar vitória sobre o coronavírus. Poderia ser Belarus, mas é o
Brasil de 2020.
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