Agora que Jair Bolsonaro se pôs sob a guarda do centrão, nossa melhor esperança de nos livrarmos desse presidente disfuncional são as urnas. E a melhor chance de as urnas produzirem uma resposta sólida contra um dirigente de turno é serem acionadas sob crise econômica.
Já lancei essa ideia
algumas vezes e, sempre que o faço, algum leitor me escreve, comentando que o
governante já tem pronto um discurso que o isenta de responsabilidade pela
economia. Dilma afirmava que a crise tinha origem externa. Bolsonaro já vai
alardeando que o período complicado que teremos pela frente é culpa de
governadores e prefeitos que exageraram no lockdown.
É claro que é
melhor para o líder ter um discurso do que não ter, especialmente se houver
gente crédula o bastante para aceitar desculpas esfarrapadas. Mas as decisões
do eleitorado não precisam ocorrer de forma consciente. O que há de mais
fascinante em pleitos são justamente os fatores que determinam o comportamento
de grandes coortes sem que as pessoas se deem conta deles.
Um exemplo bem
documentado desse fenômeno são os ataques de tubarões na costa de Nova Jersey ,
nos EUA, que quase custaram a reeleição a Woodrow Wilson em 1916. No início do
século passado, ninguém colocava entre as atribuições do presidente zelar pela
segurança de banhistas. Não obstante, a onda de ataques naquele verão —e os
efeitos econômicos decorrentes da fuga dos turistas— produziu uma insatisfação
difusa no eleitorado que se converteu em rejeição ao mandatário. Sabemos que os
tubarões estão envolvidos porque Wilson perdeu mais votos (em relação ao pleito
de 1912) nas localidades que sofreram mais ataques.
Crises econômicas
seguem esse mesmo padrão. Elas podem roubar o discurso do governante, mas não é
preciso que o façam. Só o fato de a situação estar difícil já gera um mau humor
no eleitorado que costuma empurrá-lo para a oposição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário