“Weird”, em inglês, significa “esquisito”. Em psicologuês é
o acrônimo para “western, educated, industrialized, rich and democratic”. O
jogo de palavras tem uma explicação.
Professores de universidades de países ocidentais,
industrializados, ricos e democráticos costumavam fazer experimentos
psicológicos com seus alunos e tomavam os resultados como válidos para todo
gênero humano. Não são. Essa população estudantil é que é a “esquisita”,
isto é, minoritária no planeta, tanto em termos numéricos como em relação às
características psicológicas que apresenta.
Essa descoberta levantou um problema interessante: como os
países “weird” se tornaram “weird”?
O antropólogo Joseph Henrich (Harvard) oferece uma linda resposta à questão em
“The WEIRDest People in the World”, um dos grandes livros do ano.
Resumindo 700 páginas em poucas frases, a culpa é dos
padres. Eles não tinham a menor ideia do que estavam fazendo, mas, ao vetar o
casamento entre primos e impor outras idiossincrasias matrimoniais, acabaram
solapando as bases do sistema de clãs e famílias estendidas.
Essas
mudanças tiveram consequências não só na forma de organização social (família
nuclear neolocal, crescimento das cidades e das guildas) mas principalmente
psicológicas. Ao longo dos séculos, os europeus foram ficando mais
individualistas, passaram a favorecer o pensamento analítico, a crer no
livre-arbítrio e a condenar práticas como o nepotismo. Daí à ciência e à
prosperidade material do Ocidente foi só um pulinho.
Henrich é um antropólogo cultural, mas da vertente que se
apoia em números e acredita em hipóteses que possam ser refutadas por
evidências empíricas. A consequência disso é que o livro está amparado em muita
pesquisa e muitos dados. A exposição detalhada às vezes torna a leitura pouco
dinâmica, mas a originalidade e os “insights” apresentados mais do que
compensam.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de
Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
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