Às segundas, quartas e sextas, o ministro Paulo Guedes briga
com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Às terças, quintas e sábados, fazem
as pazes. Todo dia, Guedes briga com Rogério Marinho, seu colega do
Desenvolvimento Regional. Insatisfeito com as brigas que arrumou, Ricardo
Salles, do Meio Ambiente, insulta o chefe da Secretaria de Governo, general da
reserva Luiz Eduardo Ramos. Do alto de sua erudição, num discurso em que se
disse poeta e falou até em grego, o chanceler Ernesto Araújo disse ao mundo que
“o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo, se isso faz de nós um pária
internacional, então que sejamos esse pária”. (Se o Brasil virou um pária, isso
nada tem a ver com o discurso da liberdade.) Bolsonaro, o maestro dessa banda
de música, briga com governadores, vacinas e colaboradores.
Faz tempo, diante da anarquia do fim do governo de João
Figueiredo, o general Golbery do Couto e Silva dizia que uma pessoa pode ir
para a rodoviária parando em todos os guichês, pedindo um desconto na passagem.
Podia até conseguir, mas não podia deixar de dizer para onde queria ir. Olhando
o mesmo quadro, Tancredo Neves queixava-se: “Ninguém joga só embaralhando. Tem
que dar carta a alguém, e o Figueiredo não está dando carta alguma. Está com
todas na mão”. (O tempo mostrou que o general não tinha mais carta, e Tancredo
foi eleito presidente em 1985.)
Ganha uma viagem à Pensilvânia quem souber que cartas
Bolsonaro tem. Talvez nem se possa dizer que embaralha as cartas. Ele as rasga.
Rasgou Gustavo Bebianno, Sergio Moro, Santos Cruz e Luiz Henrique Mandetta.
Marcou a do general Eduardo Pazuello.
Admita-se que o capitão tem o objetivo de se reeleger, com o
apoio do Centrão e dos auxílios emergenciais. Para isso, precisaria que a
eleição presidencial viesse rapidinho. Ela não virá, quem está a caminho é uma
insegurança econômica bafejada pelo desequilíbrio fiscal. Com o emagrecimento
da mística eleitoral que acompanhou sua vitória de 2018, resta-lhe a fidelidade
do Centrão. Se ele pudesse, deveria marcar um jantar com Dilma Rousseff, ela
acreditou nessa fidelidade.
Muita briga e poucos objetivos, os males do governo
Bolsonaro são. Quem sabe onde foi parar aquele programa Pró-Brasil? Era pó e ao
pó reverteu. Durante seu governo, o país foi infelicitado por uma pandemia que
matou mais de 160 mil pessoas. Não foi ele quem trouxe o coronavírus, mas, em
oito meses de angústia, dele não partiu uma só ação ou fala que contribuísse
para a boa ordem sanitária. Ressalvem-se a rapidez e o alcance dos R$ 600
mensais que tiraram milhões de pessoas do caminho da fome. Essas medidas,
contudo, não deram eficácia à cloroquina no combate à “gripezinha”.
Amanhã completam-se 116 anos da criação, no Rio de Janeiro, da Liga contra a Vacina Obrigatória. Pelo andar da carruagem, Bolsonaro quer liderar um movimento parecido. Em 1904, muita gente boa, como Rui Barbosa, combatia a vacinação contra a varíola, que naquele ano mataria quatro mil pessoas na cidade. Em 1980 a Organização Mundial da Saúde certificou a erradicação da doença. No governo de Rodrigues Alves, o Brasil andou para a frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário