quinta-feira, 11 de novembro de 2021

OS BOLSONAROS, TÃO GENEROSOS

Ruy Castro, Folha de S.Paulo

De uma coisa os Bolsonaros sentirão saudade quando deixarem o governo: da vida que levaram no poder —vida com que nunca sonharam em seus tempos de deputados e vereadores de quinta, esnobados por seus pares como toscos, grosseiros e cafonas. Nestes quase três anos desde que Carlos Bolsonaro se plantou com os pés no assento do Rolls-Royce que levava seu pai no desfile de posse, não houve um dia sem pândega e patuscada.

Já vai longe o tempo em que eles tinham de transferir 90% do salário de seus assessores para suas contas pessoais, o que lhes assegurou um belo patrimônio imobiliário. Mesmo a mansão milionária que Flávio Bolsonaro arrematou há pouco em Brasília deve ter resultado de fontes limpas, como empréstimos espontâneos e financiamentos a juros camaradas. É notável como as entidades privadas e particulares são atenciosas para com as pessoas no centro do poder —e nem sempre porque estas são liberais na distribuição de informações privilegiadas, mas por simpatia mesmo.

Os Bolsonaros podem ter seus defeitos, mas sabem ser amigos dos amigos. O velho Bolsonaro, por exemplo, não se esquece dos colegas de quartel —antes de ser expulso do Exército, claro— e mimoseia-os com secretarias, ministérios e presidências de autarquias, tenham ou não afinidade com a matéria.

Os meninos Bolsonaro fazem o mesmo com seus colegas de academia, tiro ao alvo e condomínio —no mínimo, incorporam-nos às suas festivas viagens ao exterior, nas quais, como se sabe, fecham-se grandes negócios para o Brasil. A generosidade é contagiosa: a convite de qualquer funcionário do 3º escalão, parentes, aspones e vadios cruzam hoje a todo instante os céus do Brasil a bordo dos aviões da FAB.

Nada supera, no entanto, a generosidade com que Jair Bolsonaro distribui o Tesouro Nacional entre os políticos de que precisa para comprar sua reeleição. É como se o dinheiro fosse dele. Ou, melhor, não fosse dele.

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