A aceleração abrupta da inflação neste ano é um fenômeno global, que abarca até países acostumados ao problema oposto, como o Japão.
Na maior parte do mundo, entretanto, as pressões de preços, que derivam dos deslocamentos no consumo e na produção por causa do impacto da pandemia, têm sido acompanhadas pela perspectiva de crescimento econômico também elevado no próximo ano.
Já no Brasil a situação é mais desfavorável. A combinação de inflação alta e risco recessivo sugere retorno a um quadro de estagflação infelizmente comum no país.
Os números são aterradores. O principal índice do custo de vida, o IPCA, subiu 1,25% em outubro, a maior taxa para o mês desde 2002, e acumula 10,67% em 12 meses. A generalização da carestia para itens como serviços sugere maior inércia e já contamina as projeções para 2022 —que se aproximam de 5%, bem acima da meta de 3,5%.
A consequência é uma maior dificuldade para o Banco Central fazer a inflação retornar aos objetivos traçados, e os juros, por isso, deverão subir mais. Não se descarta que a Selic chegue a 11% ou até mais nos próximos meses.
O quadro é agravado pela ausência de direção da política econômica, algo de resto confirmado pela tramitação da PEC do Calote, que fura o teto de gastos e eleva a dívida pública —receita para o aperto nas condições financeiras.
É essa configuração de fragilidades e desconfiança que distingue negativamente o Brasil. Embora a inflação elevada seja desconfortável em todos os lugares, lá fora ao menos há confiança na transitoriedade do fenômeno.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o índice de preços ao consumidor chegou a 6,2% em 12 meses, mas espera-se retorno ao ritmo normal de 2% ao ano. Tampouco há risco de crédito do governo.
É por isso que o Federal Reserve pode se dar ao luxo de ser paciente e não subir os juros até meados do ano que vem, quando se espera que o mercado de trabalho já esteja próximo da normalidade.
Na soma geral, as projeções mais comuns apontam para alta do Produto Interno Bruto americano próxima a 3,5% em 2022.
Aqui, empresas e consumidores não têm a mesma expectativa. A inflação é mais dura que alhures, pois foi agravada pela desvalorização do real e pode se perpetuar pela indexação. Ao mesmo tempo, os juros cada vez mais escorchantes reduzem o crescimento e a perspectiva de retomada do emprego.
A estagnação parece contratada e já se faz notar na perda de ritmo mesmo em áreas até recentemente mais defendidas, como as vendas no varejo. As chances de melhora dependem da política econômica que emergirá das eleições.
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