Acho que a Cristiana, se pudesse ver, ficaria muito feliz com todas as justas homenagens que está recebendo da legião de amigos que fez ao longo da vida. Mas certamente iria aproveitar a profusão de fontes que choram a sua partida para, como sempre, correr atrás de alguma notícia. Cristiana Lôbo foi a repórter mais animada, sensível e respeitosa com a notícia que conheci – e lá se vão mais de trinta anos.
Digo repórter, porque é isso que a Cris nunca deixou de ser, mesmo depois de chegar ao auge da profissão, como colunista e comentarista com acesso aos mais importantes gabinetes de Brasília. Gastava sola de sapato correndo atrás da informação. Se era notícia, não importava contra ou a favor de quem, ela dava. Conquistou suas milhares de fontes assim, sendo correta.
E conquistou seus milhares de amigos sendo Cristiana. O que dizer? Que história contar, de tantas? Tantos momentos partilhados ao longo de uma trajetória profissional, mas também na vida – bons, ruins, engraçados, sérios, às vezes de brigas, outros de grande solidariedade.
No início dos anos 90, eu, ela e Jorge Bastos Moreno éramos um trio do barulho na redação do Globo. Nas eleições, o jornal resolveu mandar a gente passar dias e dias cobrindo campanhas nos estados – onde nada acontecia. Eu fui para Alagoas, a Cris para o Pará, o Moreno para o Amapá. Naquele quase castigo, trocávamos, os três, longos telefonemas todas as noites para se queixar da vida e contar o que não tínhamos feito naquela monotonia – que se resumia a ir aos tribunais regionais eleitorais. O meu era o TREAL, o do Moreno era o TREAP e o dela… o TREPA. Passamos anos brincando de mandar uns aos outros pro TREPA.
Moreno e Cristiana eram uma dupla unida na profissão e na vida. Sua amizade era especial e se alimentava de tapas, beijos e muito, muito amor – extensivo à família. Quando o Gustavo nasceu, Moreno disputou a vaga de padrinho acirradamente. Chegou ao hospital com uma enorme caixa cheia de pressentes – eu junto, depois de ajudá-lo a comprar. Viraram compadres, e era assim que se tratavam.
Também um excepcional jornalista, Jorge Bastos Moreno partiu há mais de quatro anos. No vôo para seu velório, a Cris lembrava as brincadeiras que ele fazia. Não sai da minha cabeça, hoje, a imagem do Moreno recepcionando a comadre lá na redação do céu, onde certamente eles vão aprontar.
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