segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

QUANTOS BOLSONARO MATOU NA PANDEMIA ?

Celso Rocha de Barros, Folha de S.Paulo

Nos últimos dias de 2021, um grupo de pesquisadores brasileiros, ligados à Fundação Oswaldo Cruz e ao Observatório Covid-19 Brasil, disponibilizou um artigo em pré-print —ainda não avaliado, portanto, pelos pareceristas da publicação científica— que dá uma nova contribuição à estimativa de quantos brasileiros Jair Bolsonaro matou durante a pandemia de Covid-19.

O cruzamento entre dados de vacinação e óbitos por Covid-19 em 2021, ano em que a vacinação começou, não dá margem a qualquer dúvida. Observe o que acontece quando a vacinação vai progredindo. Conforme a vacinação cresce, o número de óbitos cai, e cai rápido.

Com esses dados, os pesquisadores utilizaram técnicas estatísticas para verificar, com base no padrão observado em 2021, duas coisas. A primeira, a boa notícia, é que a vacinação salvou, no mínimo, 75 mil idosos brasileiros em 2021.

Setenta e cinco mil pessoas são um Maracanã cheio. Imaginem o estádio cheio de pais e mães, avôs e avós. Há um botão que abre os portões e os deixa ir para casa festejar o Natal de 2021 com suas famílias, lhes dá mais tempo com seus filhos e netos, dá a seus filhos e netos mais tempo com eles.

A vacina apertou esse botão. Todos saíram e passaram o Natal de 2021 com suas famílias.

A segunda conclusão do estudo é a seguinte: se a vacinação tivesse seguido exatamente o mesmo ritmo, mas começado um mês antes, 25 mil idosos que morreram em 2021 não teriam morrido. Se tivessem começado dois meses antes, 48 mil idosos que morreram em 2021 não teriam morrido.

Mas Jair Bolsonaro apertou o botão de não comprar vacina. Todos no estádio morreram se debatendo por oxigênio. Seus filhos e netos choraram de saudade no Natal de 2021, como vão chorar nos próximos. Enquanto isso, Bolsonaro dançava funk em uma lancha.

O novo estudo parte do princípio de que as vacinas teriam sido aplicadas no ritmo e no volume em que foram, de fato, aplicadas no Brasil em 2021. Mas a CPI provou que, se Bolsonaro não tivesse recusado as ofertas de Pfizer, Butantã e metade da oferta do Covax Facility, teria havido muito mais vacina, muito mais cedo. Muitos outros estádios teriam o botão de abrir a porta.

Como já disse aqui na coluna, o epidemiologista Pedro Hallal fez a conta de quantas pessoas teriam sido salvas até o final de maio se as ofertas da Pfizer e do Butantã tivessem sido aceitas.

O resultado foi 95 mil. Uma arena do Palmeiras e arena do Corinthians somados. Imaginem esses estádios lotados de pais e mães, avôs e avós. Eles queriam voltar para casa para festejar o Natal de 2021 com suas famílias.

Ainda não temos estimativas de quantos estádios cheios de mães e pais, avós e avôs, filhos e filhas, irmãos e irmãs, teriam sido salvos depois do final de maio, ou se Bolsonaro tivesse aceitado a outra metade da oferta do consórcio Covax Facility, ou se não tivesse sabotado o trabalho dos governadores, ou se não tivesse combatido o uso de máscaras, ou se tivesse implementado a testagem em massa com rastreamento de contato.

Se alguém no governo tem como contestar esses números, o debate está aberto.

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