sábado, 26 de fevereiro de 2022

O APOCALIPSE BOLSONARO

Cristina Serra, Folha de S.Paulo

Declaração do secretário-geral da Presidência, Luís Eduardo Ramos, remeteu-me aos quatro cavaleiros do apocalipse, citados em textos bíblicos. O general de pijama encrespou-se com os ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, ex e atual presidente do TSE, que condenaram ataques ao sistema eletrônico de votação.

Ramos disse que Bolsonaro "está sentado nessa cadeira [da Presidência] por missão de Deus" e que tem recebido críticas "muito duras". Por isso, Ramos afirmou sentir-se no direito de levantar dúvidas sobre a "isenção e imparcialidade de futuros processos".

Não, general, não foi Deus que colocou seu chefete lá. Foram os votos obtidos por meio do mesmíssimo processo que será usado nas eleições de 2022. Invocar suspeitas sobre o sistema de votação, sem provas, é crime. É golpe.

O tom de Ramos contra os ministros é o mesmo da afronta de Braga Netto contra a CPI da Covid. Na época, o general abespinhou-se com declaração do presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), sobre o "lado podre" da caserna envolvido em "falcatruas" no Ministério da Saúde, e emitiu nota intimidatória contra os senadores.

Augusto Aras é o terceiro cavaleiro. Não só pela blindagem a Bolsonaro, mas pelo empenho em desmoralizar a CPI e a própria PGR. Os senadores identificaram crimes e provas. Fizeram o que Aras não fez e continua se recusando a fazer: investigar o massacre de quase 650 mil brasileiros, comandado por Bolsonaro.

Especialista no "dane-se" generalizado para o país e as instituições, o presidente da Câmara, Arthur Lira, completa o time. Sentou-se na maior pilha de pedidos de impeachment da história, comanda a rapina do orçamento secreto e ignora há três meses decisão do TSE sobre a cassação do mandato de um deputado.

No tal texto bíblico, o quarteto do fim do mundo é associado a uma sequência de desgraças: peste, fome, guerra e morte. Metáfora perfeita para o que representam Bolsonaro e seus quatro cavaleiros do apocalipse.

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