Propaganda de Bozzo, pura e simplesmente. Quase um cantoria em final de culto ou missa. Por isso e outras temos tudo para colher mais uma derrota. Ademais, canções clássicas de protesto, sempre necessárias, apoiam-se em metáforas e imagens outras para dizer com a profundidade estética algo para além de uma literaridade pífia. E para convencer quem?
Músicas, cinema, literatura, humor, teatro de maior alcance fixam-se como arte crítica (e não como modismo ou oportunismo), permanecendo segundo uma legalidade estética específica. Não devem se reduzir à retóricas estratégicas o calvário da escritura, oferecendo passarelas para emoções dos pensamentos altos. Elevar, sempre. Basta ouvir as canções ” O que será” ou “Cálice” de Chico Buarque, por exemplo. São universais. Cada vez mais atuais diante de um “horror democrático” do protofascismo em curso. Parecem ter ainda mais sentido do que na época da ditadura militar. E não se trata de intelectualismo pedante. Cartola nos encanta.
A denominada arte de engajamento político é conhecida desde os russos sob Stálin até na Alemanha de Lulu Marlene, como sucesso único, retumbante e incontido nas rádios e fronts nazistas.
Temos que acordar. Até uma militante tradicionalista (PC do B) como Manuela D’Avila já admitiu a ignorância lulopetista insistindo em ritmo das redes na militância de memes, videozinhos, charges, canções nos quais o máximo da consciência e da ação política cinge-se à pessoas (não poupam nem a esposa de Bolsonaro) menos que em ideias, mais em insultos e não em apresentação e reprodução do programa “revolucionário” do candidato Lula. Mas o que se quer, ganhar votos? Ou não, pois que para milhares, o samba é a do Lula já ganhou. Será?
Um grande pensador basco, talvez um dos maiores intelectuais preparados para pensar as mutações que constituem uma verdadeira metamorfose a nos acossar, situa nosso momento dramático: “O cenário político costuma ser descrito por meio de distinções binárias – heróis ou vilões, triunfos e desastres, inocentes e culpados, dominadores e dominados-, precisamente numa época em que há muitas zonas cinzentas e em que praticamente não existe debate sobre outras opções. Na linguagem coloquial, politizar implica criar tensões num espaço binário, quando na verdade é justamente o contrário; no sentido mais forte do termo quer dizer discutir sobre as diversas posições, tornar inteligível a complexidade dos assuntos, procurar alternativas…” (Daniel Innerarity. “Política em tempos de indignação. A frustração popular e os riscos para a democracia”. Trad Pedro George. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p.136.
Vamos sair da mesmice reacionária?
– Edmundo Lima de Arruda Jr
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