sábado, 29 de outubro de 2022

UMA ELEIÇÃO CRUCIAL

Editorial Folha de S.Paulo

Os quase quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência colocaram em xeque as instituições do país, no maior teste de estresse pelo qual passou a democracia brasileira. Colocaram sob escrutínio também o jornalismo apartidário, pedra basilar deste jornal.

Conforme o país se prepara para fazer sua escolha, a Folha se mantém convencida de que o apartidarismo é a melhor forma de fazer jornalismo crítico, isento e independente, o de maior utilidade pública.

Neste domingo (30) o eleitor brasileiro tem duas opções bastante distintas a sua frente.

Se a escolha for por Bolsonaro, o voto recairá no político que deixou de lado as responsabilidades de governo para se dedicar a seu projeto tirânico de eliminar limites ao poder presidencial.

O que está em jogo não são apenas os próximos quatro anos. São as quase quatro décadas de exercício pleno da democracia no Brasil, exemplar em qualquer lugar do mundo. É essa conquista fundamental da sociedade que está sob a ameaça do projeto cesarista de Bolsonaro.

Atacou o Judiciário e, principalmente, o Supremo Tribunal Federal sempre que pôde. Colocou a Procuradoria-Geral da República a seus pés. Tentou desacreditar o seguro sistema eleitoral e suas urnas eletrônicas, de renome mundial.

Nomeou militares em número recorde para postos no governo. A maioria dolorosamente incompetente, caso do general à frente da Saúde durante a pandemia. Desacreditou e retardou a vacina na maior crise sanitária a atingir o mundo em gerações.

Alvejou com sua pauta de costumes obscurantista o consenso iluminista, no esforço tresloucado de converter civilidade em barbárie. Fez apologia da tortura. Armou a população por decreto e afrontou o Estado de Direito, as mulheres, a laicidade, as minorias e a imprensa independente.

Estimulou o desmatamento da Amazônia e desprezou a pauta ambiental e climática, transformando o país em pária internacional.

Se a maioria preferir Luiz Inácio Lula da Silva, o eleito será um político que na sua passagem pelo Planalto deixou realizações e também manchas, em particular nos casos escabrosos de corrupção descobertos em seus governos. Ao longo de sua trajetória, deu seguidas mostras de respeito ao jogo democrático.

Nesta campanha, o petista não deixou claros seus planos no campo vital da economia. Não indicou se pretende reeditar a gestão responsável que marcou seu primeiro mandato ou o estatismo perdulário que culminou no desastre social de Dilma Rousseff.

Seja qual for a escolha do eleitorado, a Folha se compromete a fazer uma cobertura crítica ao próximo governo. E a zelar pela democracia.

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