Time de Haddad terá de entregar uma melhora significativa nas áreas social e ambiental
A campanha das “Diretas-já” era um evento histórico, e a tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco não poderia ficar de fora. Corria o ano de 1984, e o jovem presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Eugênio Bucci, tinha senso de História. Gastou todo o orçamento do grêmio estudantil em manifestações, festas e participações em comícios. Seu sucessor herdou uma dívida portentosa.
“Foi o primeiro ajuste fiscal que tive que fazer”, disse-me certa vez, entre risos, o sucessor de Eugênio Bucci no Centro Acadêmico – o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A conversa se deu há três anos no bandejão do Insper, onde éramos professores. Salvo engano, o presidente da escola, o economista Marcos Lisboa, estava entre nós – e riu junto.
Um artigo publicado no site Brazil Journal, assinado por Lisboa – colega de Haddad no Insper e no primeiro governo Lula – e pelo economista Marcos Mendes, faz um balanço da “herança maldita” da era Bolsonaro. Executivo e Congresso distribuíram várias “meias-entradas”, para usar a expressão criada por Lisboa para designar benesses indevidas. O presidente do Insper é o entrevistado no minipodcast da semana.
Na conversa no bandejão, Haddad falou também dos ajustes fiscais que fez na Prefeitura de São Paulo, na gestão de Marta Suplicy, e em sua própria gestão, pressionada pelos erros de política econômica do governo Dilma Rousseff. Em entrevista à jornalista Miriam Leitão publicada em O Globo, Haddad disse contar com o “pente-fino” que será feito no Planejamento por Simone Tebet.
Haddad lembrou das convergências entre os programas de governo de Lula e Tebet, principalmente na área ambiental. Afinal, limitar a economia à gestão fiscal é uma visão tacanha e antiquada. A grande discussão econômica do mundo atual é a transição energética – o que implica estreita coordenação com o Meio Ambiente de Marina Silva.
Além de investir em energia eólica e solar, o Brasil tem uma grande lição de casa, zerar o desmatamento. Nossa cobertura florestal é essencial para reduzir emissões e para preservar o regime de chuvas que garante a sobrevivência do agronegócio.
Economia é, antes de tudo, uma ciência humana. Cuida-se das contas públicas para poder cuidar das pessoas e do meio ambiente – sem o qual as pessoas não sobrevivem. Num país em que inclusão e cidadania são, de longe, os principais desafios, o time de Haddad terá de entregar uma melhora significativa nas áreas social e ambiental. É isso que os brasileiros irão cobrar do governo que escolheram, e que toma posse amanhã pelos próximos quatro anos. •
*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na universidade de lisboa
Nenhum comentário:
Postar um comentário