Permitam-me um testemunho: como repórter, acompanhei no Congresso o dia a dia da Assembleia Nacional Constituinte (1987-88). Debates duros, embates pesados entre esquerda e direita, tentava-se reconstruir o país com a ditadura ainda nos calcanhares.
O convívio era com Ulysses Guimarães, Mário Covas, Nelson Jobim, Fernando Henrique, Miro Teixeira, Affonso Arinos, Roberto Campos, Paulo Delgado e tantos outros. Nível alto, qual fosse o matiz ideológico. Tempos de sarrafo elevado.
É de se perguntar o que seria do país se a composição do Parlamento fosse a atual. Tempos de sarrafo baixo. De troca de insultos no lugar de confronto de ideias e de vulgaridades a mancheias. Uma lástima, pois pela primeira vez em seus três governos e meio o PT enfrenta oposição, requisito essencial ao bom andamento democrático.
Os petistas não se abstiveram do papel de antagonistas até chegarem ao Planalto. Tiveram vida fácil quando o oponente era um PSDB mais atento aos seus punhos de renda do que ao ofício conferido pelas urnas; a direita atuava na encolha, como pato feio.
Revigorado com Jair Bolsonaro e fortalecido pelo resultado da última eleição, esse campo obteve respaldo na sociedade para exercer o poder e se tornar competitivo para voltar a ele na cadeira de condutor e não mais passageiro, conforme foi depois da redemocratização.
A habilidade política do presidente Luiz Inácio da Silva está sendo posta à prova e até então tem falhado na tarefa de gerenciar a base de apoio. Não é possível repetir o artifício das mesadas. Primeiro, porque deu errado e, segundo, porque a oposição prefere investir no projeto político a apenas se vender.
O problema é o método. Barulhento na forma, até como convém, mas inconveniente no conteúdo desqualificado. Isso é negação da política, cuja essência, notadamente no Parlamento, é a construção da convergência dentro das divergências.
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