segunda-feira, 30 de outubro de 2023

DITADURA VENEZUELANA CONTINUA A CRIAR AMBIENTE PROPÍCIO À CORRUPÇÃO

Editorial O Globo

Denúncia de desvio de US$ 2 bilhões da estatal petrolífera expõe limites da distensão ensaiada por Maduro

O ditador venezuelano Nicolás Maduro ocupou o noticiário nos últimos dias pelos movimentos de distensão na direção dos opositores do chavismo. Depois do anúncio de um acordo com a oposição para permitir “eleições livres” no ano que vem e da libertação de cinco presos políticos, obteve dos Estados Unidos a suspensão temporária do embargo à compra de petróleo e outros produtos venezuelanos. O movimento de Maduro semeou a esperança de uma transição sem traumas para a democracia, mas o caráter arbitrário e essencialmente corrupto do regime chavista não mudou, como revela um relatório da Unidade de Inteligência Financeira de Andorra (Uifand) a que obteve acesso o jornal espanhol El País.

O documento traz informações fartas sobre esquemas de enriquecimento ilícito no universo chavista, com registro de operações financeiras e imobiliárias de antigos altos funcionários do chavismo. Os esquemas fizeram desaparecer ilegalmente da estatal petrolífera Petróleos de Venezuela S.A (PDVSA) pelo menos US$ 2 bilhões, segundo o relatório. Uma das instituições financeiras usadas pelos chavistas para lavar o dinheiro foi a Banca Privada d’Andorra, que sofreu intervenção em 2015, quando um tribunal do principado começou a investigar as falcatruas. Andorra vem passando por reformas nos últimos anos, sob pressão da União Europeia, que exige mais transparência em seu sistema bancário.

Por trás da bilionária movimentação de dinheiro dos chavistas, verificada entre 2007 e 2012, a investigação identificou um testa de ferro da organização criminosa: o empresário Luis Mariano Rodríguez Cabello, que confessou ter usado uma rede de empresas-fantasmas para comprar pelo menos 19 imóveis na Venezuela e em Miami, a preços entre US$ 304 mil e US$ 5,5 milhões. Apenas em um edifício de Caracas, Cabello comprou seis imóveis. Um dos apartamentos que comprou foi dado de presente à representante da Venezuela no concurso Miss Universo.

Ao canalizar os recursos desviados para imóveis, a corrupção chavista repete prática comum na América Latina. Assentada sobre a maior reserva de petróleo do mundo e sujeita a todo tipo de interferência do governo em sua gestão, a PDVSA tem oferecido aos corruptos venezuelanos uma oportunidade sem igual. Os esquemas cobram comissões sobre as exportações de petróleo. É um alerta aos Estados Unidos, que, pressionados pela alta no barril do petróleo e pelas guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, decidiram voltar a comprar óleo da Venezuela. Será preciso que tomem todo o cuidado para não alimentar as falcatruas em torno da PDVSA.

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