Paralisação política em SP contra privatização expõe distorções do setor público
No primeiro semestre deste ano, contaram-se 558 greves em todo o país. Funcionários das três esferas de governo e das empresas estatais responderam por 60,8% (339) desses movimentos —e por praticamente 70% das horas paradas. Trata-se de um padrão.
De acordo com os números do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em todo o ano passado foram 1.067 greves, das quais quase 60% na esfera pública (54,4% de servidores estatutários e 5,1% nas estatais), cujas corporações somaram 41.590 horas paradas, ou 76,4% do total nacional.
Quando se observa que os trabalhadores vinculados ao Estado e a suas empresas não chegam a representar um quinto do mercado brasileiro, a distorção fica evidente.
Pode-se facilmente associá-la ao alcance exagerado da estabilidade no emprego do funcionalismo no país. Mesmo os funcionários das estatais federais, estaduais e municipais, regidos pela CLT, na prática gozam de ampla proteção na Justiça do Trabalho contra demissões.
Previsivelmente, tal situação não apenas desincentiva a produtividade como facilita abusos.
Foi o que se viu em São Paulo nesta terça-feira (28) com uma bizarra paralisação conjunta de metroviários, ferroviários, funcionários da Sabesp (a companhia estadual de saneamento), professores da rede pública e servidores da Fundação Casa (de atendimento a adolescentes infratores).
O movimento tem motivações variadas, mas basicamente políticas. Os trabalhadores do transporte coletivo, que são os que conseguem provocar os maiores transtornos imediatos para a população, batem-se contra planos ainda incipientes do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para a privatização dos serviços.
Eles se juntam aos grevistas da Sabesp contra a venda da empresa, objeto de um projeto do Bandeirantes em tramitação na Assembleia Legislativa paulista. Em nome dessa causa inglória, os sindicalistas como de hábito ignoraram acintosamente as determinações da Justiça de comparecimento nos horários de pico.
A privatização é de interesse público quando busca livrar as empresas de vícios como empreguismo, clientelismo, inchaço salarial, aparelhamento político e ineficiência gerencial, além de oferecer melhores serviços aos cidadãos sob uma regulação adequada.
As corporações estatais recusam desde sempre os termos desse debate. É difícil observar nessa conduta intransigente e truculenta algo além do próprio interesse.
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