Ao prolongar guerra para adiar julgamento político, premiê põe reféns em risco, dizima civis e incita violência na região
A ideia de criar um Estado palestino que conviveria com Israel, a chamada solução de dois Estados, ainda é vista nos círculos diplomáticos como a mais viável para pacificar o Oriente Médio.
O governo de Binyamin Netanyahu, porém, é um obstáculo para esse arranjo. Por ora, o premiê israelense vem conseguindo se equilibrar entre posições inconciliáveis.
De um lado, está a opinião pública mundial, incluindo os EUA, que pressiona Israel para que aceite um cessar-fogo em Gaza, interrompendo a carnificina que já vitimou milhares de civis palestinos.
De outro, estão os membros mais extremistas do gabinete, que recusam qualquer trégua e nem sequer admitem que a ajuda humanitária que chega à região seja ampliada.
No meio dessa disputa, mais de uma centena de cidadãos israelenses ainda são reféns de terroristas.
As perspectivas mais realistas de libertação passam por uma negociação indireta, por meio de Qatar e Egito. A soltura se daria em troca do cessar-fogo e da libertação de prisioneiros palestinos de Israel.
As famílias dos reféns, que têm a simpatia de grande parte da opinião pública israelense, pressionam o governo a aceitar o plano. Mas a ala radical não apenas resiste como ameaça romper a coalizão se suas demandas não forem atendidas.
Netanyahu, cujo governo já vinha perdendo apoio popular antes do ataque de 7 de outubro, também será cobrado pelo fracasso de sua política de segurança, que mesmo com superioridade tecnológica não conseguiu conter o Hamas em Gaza, e dos serviços de inteligência, que não detectaram a ameaça.
Igualmente importante, parece não haver um plano coerente para Gaza após o fim do conflito.
A própria guerra tem permitido que Netanyahu drible momentaneamente essas contradições. Não é costumeiro, afinal, depor o comandante no meio da batalha. Por saber disso, o primeiro-minstro pode estar prologando as ações militares, com o objetivo de adiar o acerto de contas político.
Estender a duração da guerra, entretanto, aumenta o risco de escalada de violência no Oriente Médio sem impedir o julgamento futuro do atual governo.
De acordo com uma pesquisa de janeiro, apenas 15% da população quer que Netanyahu continue no comando do país após a cessação das operações militares.
Ao que tudo indica, em algum momento não muito longínquo os israelenses serão chamados mais uma vez às urnas. O brutal ciclo de violência na região evidencia que não haverá paz duradoura sem a solução dos dois Estados.
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