sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

SE VENCER, TRUMP TENDE A RADICALIZAR PROTECIONISMO

Opinião Valor Econômico

Ex-presidente acenou com plano de para zerar as importações de produtos considerados essenciais vindos da China

Donald Trump é o virtual candidato republicano à Presidência dos EUA nas eleições de novembro. Há um interesse crescente em relação às suas propostas para a economia, mas Trump não vem falando muito sobre seus planos econômicos para um eventual segundo mandato. Os primeiros indícios da Trumponomics 2.0 apontam para um aprofundamento das políticas nacionalistas do seu primeiro mandato. O nível de imprevisibilidade das ações do governo americano deve voltar a crescer.

Trump não participou de debates durante as prévias no Partido Republicano. Ele vem concedendo poucas entrevistas, e poucas propostas circularam até agora. Alguns assessores têm falado (pouco também) sobre os planos para a economia. As principais linhas de uma política econômica de Trump parecem ser: impor novas tarifas de importação; acelerar o processo de desconexão econômica com a China; reduzir o custo da energia, estimulando o uso de combustíveis fósseis; e tornar permanente o corte de impostos aprovado em 2017.

Trump tem falado mais sobre a “tarifa básica universal”, uma nova sobretaxa a produtos importados pelos EUA. Ele citou uma possível alíquota de 10%, mas isso não está definido. Como também não está clara ainda a abrangência dessa tarifa, isto é, se ela incidiria sobre todos os produtos importados ou apenas sobre uma parte deles. Aparentemente, México e Canadá ficariam de fora, já que Trump negociou com esses países o USMCA, revisão do antigo Nafta e que prevê isenção de tarifas em quase todo o comércio na América do Norte. O Brasil dificilmente seria poupado. Trump já citou o país como um dos que se aproveitariam do comércio com os EUA ao mesmo tempo em que mantém tarifas altas para produtos americanos.

O objetivo declarado da tarifa seria trazer mais produção e empregos para os EUA. Trump, que já se definiu como “tariff man” (o homem das tarifas), tem uma visão mercantilista do comércio exterior e vê o déficit comercial como uma pilhagem dos EUA por outros países. Além disso, esse discurso nacionalista é apreciado por parte do operariado industrial americano que ajudou a impulsionar Trump politicamente.

Essa sobretaxa comercial traz vários riscos. O mais óbvio é que os países atingidos retaliem, causando uma guerra comercial global. Além disso, a tarifa criaria nova pressão inflacionária nos EUA, num momento em que o país luta para sair de um período de inflação elevada e tem uma taxa de desemprego muito baixa. Vários estudos apontam que os empregos eventualmente gerados por esse tipo de protecionismo têm um custo muito alto.

Trump também tem dado destaque a propostas para acelerar a desconexão entre as economias dos EUA e da China. Ele quer “eliminar completamente a dependência da China em todas as áreas críticas”. Para isso, acenou com um plano de quatro anos para zerar as importações de produtos considerados essenciais vindos da China, o que incluiria uma ampla gama de itens, de químicos e farmacêuticos a eletrônicos. O prazo parece pouco factível, mas a ideia indica a direção da política comercial americana. Além disso, Trump afirmou que pretende adotar severas restrições aos investimentos de empresas americanas na China e à compra de ativos americanos por chineses. Ele deve revogar o status de “nação mais favorecida” da China, o que faria Pequim perder uma série de vantagens no comércio com os EUA.

Uma nova guerra comercial entre EUA e China teria ampla repercussão negativa na economia mundial e certamente azedaria ainda mais as relações já tensas entre Washington e Pequim. O governo do democrata Joe Biden vem adotando uma política de desconexão mais gradual, enquanto busca retomar negociações com a China em áreas de interesse mundial. Para Robert Lighthizer, Representante Comercial (USTR) dos EUA no primeiro mandato de Trump, eventual retaliação comercial chinesa a novas tarifas americanas ajudaria a acelerar o objetivo de Trump de cortar boa parte das relações econômicas entre os dois países.

Sobre política energética, Trump tem sido bastante claro na campanha eleitoral. “Perfurar, perfurar, perfurar” (“drill, drill, drill”) se tornou uma espécie de bordão em seus comícios. Ele sugere que vai revogar boa parte da política ambiental e climática de Biden e estimular produção e uso de combustíveis fósseis, para baratear a energia nos EUA. Isso possivelmente implicaria que ele novamente retiraria o país do Acordo de Paris. Trump acha que mudanças climáticas são uma farsa.

A mídia americana acredita que o foco de um eventual segundo governo Trump na área fiscal seria tornar permanentes os cortes de impostos aprovados em 2017, que beneficiam principalmente as empresas e os mais ricos e que acabam em 2025. Sobre a importante relação com o Fed (o banco central americano) e a política monetária, Trump já disse que acha as taxas de juros atuais muito altas e sinalizou que poderia pressionar pela sua redução. Num comentário recente sobre os níveis recordes da Bolsa de Valores de Nova York, ele insinuou que isso se deve às políticas adotadas em seu governo, mas previu uma queda forte e disse que torce para que o “crash” ocorra ainda neste ano, no governo Biden.

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