Disputa pelo controle do Orçamento está aberta
Dotados de uma extraordinária capacidade sensorial, os tubarões conseguem perceber uma gota de sangue em 1,5 milhão de gotas de água a uma distância de 30 metros. É preciso pouco para atiçá-los. Para alguns tubarões do Congresso, há sinais de sangue do governo na água. A disputa pelo controle do Orçamento está aberta. É hora de atacar.
Algumas gotículas se espalharam em dezembro, quando pesquisas de avaliação apontaram um cenário considerado relativamente preocupante por aliados. Segundo o instituto Datafolha, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou 2023 com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideram seu trabalho regular. Outros 30% responderam ruim ou péssimo.
Na ocasião, perguntou-se também as maiores preocupações dos brasileiros. A saúde voltou a ser líder isolada da lista, sendo o principal problema do país para 23% dos eleitores. Em setembro, 17% dos entrevistados diziam estar mais preocupados com o setor. Na sequência, foram citadas segurança pública e educação.
O ano não começou bem para o governo nessas áreas. O país enfrenta uma epidemia de dengue. Nessa terça-feira (6), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, precisou usar a rede nacional de rádio e TV para falar à população das medidas de combate ao mosquito que transmite a doença.
O governo sustenta que o Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer de forma gratuita um imunizante contra dengue na rede pública, e está negociando a ampliação da oferta. A expectativa é que a distribuição da vacina em locais de maior risco avance no curto prazo, mas ainda é cedo para saber qual será a reação da opinião pública.
Outro ferimento ocorreu na área da Educação. A pasta admitiu a divulgação indevida de resultados provisórias do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) no dia 30 de janeiro, quando os dados ficaram disponíveis por quase meia hora. “Frustração” foi a palavra que diversos estudantes usaram para expressar o que sentiram quando seus nomes “saíram” da lista final de aprovados para vagas nas universidades e instituições públicas de ensino superior.
A segurança pública é outro ponto fraco. Neste início de ano, o governo também se preocupou em explicar à população como tem agido para melhorar os indicadores de combate ao crime organizado. Antes de deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino apresentou um detalhado balanço. Seu sucessor, Ricardo Lewandowski, prometeu ampliar os esforços. Mas o que prevalece é a sensação de insegurança nas principais cidades do país.
Em outra frente, bastante explorada pela oposição, o Executivo precisou explicar os motivos de a crise nos territórios Yanomamis persistir durante todo 2023 e já avançar sobre o calendário de 2024.
Autoridades do Palácio do Planalto rebatem. Sustentam que a popularidade do presidente Lula irá crescer, à medida que algumas entregas forem sendo realizadas.
Um exemplo é a implementação do programa Mais Médicos, que prevê a presença de 28,25 mil profissionais para a Atenção Primária à Saúde em 4,59 mil municípios. Existe, também, a previsão de R$ 1,2 bilhão para a realização de cirurgias eletivas e redução de filas para esses procedimentos - o dobro do disponibilizado ano passado.
O Planalto espera um efeito positivo a partir da ampliação de matrículas no ensino em tempo integral. Já estão pactuadas 1 milhão de novas vagas, e o objetivo é alcançar 3,2 milhões até 2026. A estimativa do governo é liberar cerca de R$ 4,2 bilhões para essa finalidade no primeiro biênio do mandato.
Essas autoridades acrescentam: tampouco se sentiu o impacto do anúncio da retomada da faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, que contempla famílias com renda bruta de até dois salários mínimos.
Uma ala do governo, contudo, tem outro diagnóstico. Reconhece-se que o governo ainda não conseguiu emplacar novas marcas no imaginário do eleitorado.
Em segundo lugar, há uma preocupação com a dificuldade em construir pontes com a população evangélica. Nesse contexto, deve-se registrar a presença do vice-presidente da Câmara e presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), em recentes eventos promovidos por Lula em São Paulo.
Em terceiro lugar, um integrante do primeiro escalão menciona o risco de antecipação da disputa eleitoral de 2026 e, consequentemente, arestas criadas na articulação com o Congresso. Sangue na água.
A economia, contudo, é a boia de salvação à disposição. Figuras importantes do mercado começam a falar com mais desenvoltura sobre a expectativa de surpresa positiva no Produto Interno Bruto (PIB). Isso ocorrendo, haveria um aumento da arrecadação, a qual contribuiria para o plano da equipe econômica de perseguir a meta de déficit zero. Com a desaceleração da inflação e a redução da taxa de juros já presentes no radar, espera-se para os próximos meses uma alta do consumo e um aumento da sensação de bem-estar social.
Se o próprio governo não errar, por exemplo retomando o debate da revisão da meta fiscal, existe uma boa oportunidade para que mais entregas sejam feitas. O risco de sangria na popularidade de Lula seria estancado.
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