Nova presidente
da Petrobras apresenta credenciais que justificaram sua escolha por Lula
A primeira
entrevista de Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras,
fecha o ciclo de transição da companhia de uma gestão mais inclinada aos
interesses do mercado, ao estilo Paulo Guedes, para a administração petista,
comprometida com objetivos estatais mais amplos.
Transcorrido um
terço deste novo mandato de Lula, a Petrobras alterou sua política de preços de
combustíveis, desatrelando-os das cotações internacionais do petróleo, e lançou
um novo plano de investimentos, retomando a ênfase em refino, transporte e
comercialização, áreas que haviam sido a relegadas a segundo plano no governo
Bolsonaro.
Mais
recentemente, a polêmica sobre a distribuição de dividendos extraordinários, a
despeito de toda a confusão causada nos mercados, serviu para sinalizar aos
acionistas minoritários e investidores que os tempos mudaram.
Já em termos da
estratégia da companhia, o novo pedido direcionado ao Ibama para realizar
perfurações na Margem Equatorial e a revisão do acordo celebrado com o Cade
sobre desinvestimentos em refino e gasodutos deixam claro que a empresa voltará
a apostar na verticalização, do poço à bomba.
Magda Chambriard,
portanto, chega ao poder após seu antecessor, Jean-Paul Prates, ter pagado o
alto preço de preparar o terreno para colocar a Petrobras na trilha dos
investimentos voltados para o desenvolvimento nacional, tal qual reza a
cartilha petista. Na primeira entrevista concedida após sua posse, a nova
presidente da petrolífera reforçou essa visão, apresentando as credenciais que
esclarecem por que Lula a escolheu para assumir o comando da mais poderosa
empresa estatal brasileira.
No seu discurso
inaugural, Chambriard até que se esforçou para equilibrar no cabo de guerra
entre o mercado e o governo. Depois de uma queda de mais de 10% nas ações desde
que foi anunciada a troca de comando na Petrobras, ela enfatizou bastante as
referências em lucros e dividendos, termos que são música para os ouvidos dos
investidores.
Para tornar
realidade essa promessa, porém, a nova CEO ancorou sua fala em referências
a segurança energética, à necessidade de o Brasil se manter auto-suficiente na
produção de combustíveis e ao peso que o petróleo tem na pauta de exportações
brasileiras.
E não mediu palavras
para destacar que sua missão é expandir a produção, explorando novas fronteiras
para a extração de óleo e gás, mostrando-se disposta cumprir essa promessa de
forma rápida – aliás, “tempestiva”, expressão que repetiu seis vezes no seu
curto pronunciamento.
Há, porém, dois
riscos nessa estratégia, que incomodam dois importantes grupos de stakeholders
da Petrobras.
O objetivo de
acelerar os investimentos na produção, refino e comercialização pode reeditar
erros do passado, quando a Petrobras teve prejuízos bilionários provocados pela
falta de critérios nas suas decisões – e isso provoca arrepios nos investidores.
Por outro
lado, a intenção de abrir novos campos de exploração em áreas sensíveis,
como a Margem Equatorial, desperta apreensão não apenas nas autoridades
ambientais do governo, mas a segmentos sociais preocupados com a mudança
climática.
Magda Chambriard,
durante a entrevista, até mencionou a necessidade de a Petrobras investir
em fontes renováveis de energia, mas dentro de uma lógica de lucro empresarial
e mirando a neutralidade de emissões de carbono em 2050 – e o Rio Grande
do Sul está aí para mostrar que o país não pode esperar até lá.
Embora em seu
discurso a nova CEO da Petrobras tenha buscado se equilibrar entre os objetivos
do governo, a desconfiança do mercado e as preocupações dos ambientalistas, sua
entrevista não deixou dúvidas quanto ao rumo que será trilhado durante sua
gestão.
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