segunda-feira, 8 de julho de 2024

O MAPA DA MINA DA ELEIÇÃO MUNICIPAL

Bruno Carazza, Valor Econômico

Distribuição de recursos do fundão revela as estratégias de cada partido nas eleições municipais

Recife, São Paulo, Vitória, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Contagem, Guarulhos, Fortaleza, Salvador e Feira de Santana. Na eleição de 2020, o Partido dos Trabalhadores (PT) aplicou R$ 39,4 milhões nas campanhas a prefeito dessas dez cidades - o equivalente a 20% do valor gasto pelo partido (R$ 196,6 milhões) em todas as candidaturas para prefeituras e câmaras de vereadores nos mais de cinco mil municípios brasileiros.

A taxa de aproveitamento desse investimento foi bastante baixa naquele ano. Dos dez candidatos com os maiores aportes petistas, apenas Marília Campos, de Contagem-MG, se elegeu. Marília Arraes (Recife), João Coser (Vitória), Dimas Gadelha (São Gonçalo), Elói Pietá (Guarulhos) e Zé Neto (Feira de Santana) tombaram no segundo turno; os demais (Jilmar Tatto, Benedita da Silva, Luizianne Lins e Major Denice) nem lá chegaram.

Para além da questão do sucesso ou fracasso dessas campanhas, a concentração das despesas dos fundos partidário e eleitoral nessas dez localidades indica a estratégia do PT no pleito municipal daquele ano.

De antemão, revela-se uma preferência regional, com destaque para o Sudeste e o Nordeste. A opção pelas capitais também é clara, a ponto de o partido ter gastado somas milionárias em tentativas com baixíssima probabilidade de sucesso (casos de Jilmar Tatto em São Paulo ou Major Denice em Salvador), apenas para marcar terreno.

É interessante notar, ainda, o foco em São Gonçalo, Contagem, Guarulhos e Feira de Santana - todas situadas entre as mais populosas de seus Estados, e que receberam bem mais recursos do que a maioria das capitais brasileiras.

O mapa da distribuição de recursos entre os candidatos do PT nas eleições de 2020 deixa antever que sua tática eleitoral tinha longo alcance. De modo agregado, o partido do presidente Lula concentrou quase a metade dos recursos no Sudeste (45,3%), onde estão os três maiores distritos eleitorais (SP, MG e RJ). Em seguida, vieram os estados nordestinos, com pouco menos de um terço do volume (29,2%).

O PT também é um dos partidos que mais dá prioridade às eleições majoritárias, destinando 70,8% da verba do fundão eleitoral para as disputas à prefeitura, deixando apenas 29,2% para seus candidatos a vereador. Além disso, concentra-se nos maiores municípios, especialmente aqueles com mais de 200 mil habitantes, onde há possibilidade de segundo turno (53,9%) e, portanto, a chance de se polarizar com um candidato de direita.

Essas escolhas mostram que o PT se valeu das eleições municipais em 2020 como parte de sua estratégia para voltar à Presidência da República dali a dois anos. Se, por um lado, o partido foi bem-sucedido em alcançar seu objetivo maior, por outro a eleição de uma bancada relativamente pequena para a Câmara dos Deputados foi o preço pago por essa opção, o que também já estava claro na distribuição dos recursos no pleito municipal de quatro anos atrás.

Outros partidos, porém, têm em mente outras metas. Tome-se o caso do PSD, de Gilberto Kassab. Em busca de fincar suas raízes nos rincões do país, o partido aplicou 48,9% do total gasto em 2020 (R$ 153 milhões) em municípios com menos de 50 mil habitantes, equilibrando melhor a repartição dos recursos entre as cinco grandes regiões.

Outras legendas investem pesadamente em preservar seus feudos locais. O PSB aplicou quase metade da verba recebida do TSE no Nordeste (46,3%); sendo que, desses, mais da metade vai para Pernambuco, reduto da família Campos Arraes, que comanda o partido.

Já os tucanos foram os que proporcionalmente mais fixaram seus gastos no Sudeste (53,1%). A investida deu certo, com o partido elegendo 173 prefeitos em São Paulo naquele ano - ganho efêmero, já que pouco mais de vinte permanecem no partido, segundo apurou a repórter Cristiane Agostine, para o Valor.

As eleições municipais acontecem daqui a três meses. Com muito mais dinheiro em caixa (o fundão subiu de R$ 2 bilhões para R$ 4,9 bilhões), a forma como os partidos vão gastar essa dinheirama pode definir o rumo da política brasileira a partir de 2026.

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