sexta-feira, 12 de julho de 2024

TARCÍSIO VAI PARA O RISCO EM 2026 ?

Thiago Prado*, O Globo

Donos e diretores dos principais institutos de pesquisa divergem sobre o melhor caminho para o governador de SP

A melhora nos índices de popularidade nas pesquisas Quaest e Ipec divulgadas nos últimos dias levou o presidente Lula a figurar novamente entre os raros líderes globais que hoje conseguem ter mais de 50% de aprovação popular em seus países, segundo o levantamento mensal da empresa Morning Consult (em junho, apenas Narendra Modi, da Índia, Andrés Manuel López Obrador, do MéxicoJavier Milei, da Argentina, e Viola Amherd, da Suíça, alcançaram o patamar num ranking de 25 chefes de Estado). Mesmo faltando mais de dois anos para a corrida eleitoral de 2026, a principal pergunta que ronda as conversas de quem mexe com política hoje não envolve Lula, mas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Afinal, ele trocará a, em tese, tranquila reeleição ao Palácio dos Bandeirantes e arriscará uma candidatura ao Planalto? O tema divide donos e diretores dos mais relevantes institutos de pesquisa do Brasil.

— O Tarcísio não tem necessariamente uma escolha a fazer. Se as condições se apresentarem, e ele virar o nome de consenso da direita para substituir Bolsonaro, ficará difícil não ser candidato. Pode parecer medo. Ele será levado, mesmo que não queira — diz Felipe Nunes, da Quaest, um dos autores do livro “Biografia do abismo”, que cunhou a expressão “polarização calcificada” para descrever o cenário político brasileiro desde as eleições de 2022.

Tanto Andrei Roman, do AtlasIntel, quanto Márcia Cavallari, do Ipec, enumeram predicados de Tarcísio e dificuldades de Lula para cogitar o voo mais alto do governador de São Paulo.

Desde o inicio do mandato, quebrou muito pouco a polarização. Se o próximo candidato da direita não tiver rejeição tão cristalizada como Bolsonaro, haverá mais condições de assegurar a migração maior de votos de eleitores de centro, que estavam, por exemplo, com Simone Tebet. Nesse contexto, Tarcísio tem chances muito boas — afirma Roman. — Por que ele não iria para o Planalto? Depende da ambição política. Outros tiveram uma reeleição tranquila e arriscaram. O quadro está totalmente aberto. Lula ainda não tem maioria absoluta e inequívoca — diz Cavallari.

O dono do Ipespe, Antonio Lavareda, e o fundador do Instituto Ideia, Maurício Moura, um dos autores do livro “A eleição disruptiva: por que Bolsonaro venceu?, discordam dos colegas e acham que Tarcísio deveria cumprir seu ciclo de oito anos em São Paulo:

— Se fosse hoje, entre uma disputa de desfecho imprevisível e a grande probabilidade de sucesso como incumbente na reeleição, a lógica aconselharia optar pela segunda opção. Não há adversário para ele em São Paulo, e há Lula para o Planalto. — diz Lavareda. — Um presidente em exercício com essa aprovação é bem difícil de ser vencido. Restam nomes como os governadores de direita de segundo mandato, Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil), que não acho que conquistarão o apoio de Bolsonaro. Como Michelle também não será aceita pelo ex-presidente, o filho Flávio, que estará no meio do mandato de senador, pode ser uma opção — afirma Moura.

Todos concordam que o candidato da direita será competitivo, independentemente do nome.

— Lula até melhora, mas não consegue avançar para além da bolha que o elegeu. O governo tem ótimos números na economia, mas isso não se reflete no dia a dia das pessoas — diz Luciana Chong, do Datafolha.

Também há consenso sobre o encontro marcado de Tarcísio com um nó político caso mire a Presidência. A Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Balneário Camboriú (SC) no último fim de semana, reafirmou a estratégia de Bolsonaro de repetir o que Lula fez no passado e registrar candidatura, mesmo sabendo que ela será impugnada pelo TSE. Em 2018, um Fernando Haddad recém-derrotado para a Prefeitura de São Paulo aceitou participar do teatro protagonizado pelo PT sendo vice de Lula por um período até assumir o comando da chapa. Se a direita mantiver a ideia, estaria Tarcísio disposto a sair do cargo em abril, participar do show de vitimização bolsonarista durante meses para, aí sim, ser ungido ao posto de principal oponente de Lula? Ele desconversa, diz que não tem interesse em 2026 e acumula palavras de lealdade a Bolsonaro. Na CPAC, dois dias depois de o ex-presidente ser indiciado pela Polícia Federal no caso das joias por peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa, concluiu seu discurso chamando o ex-presidente de “professor”.

*Thiago Prado é editor de Política e Brasil do GLOBO

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