Bolsonaro
conseguiu levar milhares para a Paulista, mas coleciona derrotas que vão do
fracasso de candidatos às brigas na extrema direita
Jair
Bolsonaro conseguiu reunir
uma multidão na Avenida Paulista, mas, ao mesmo tempo, viu as fraturas
dentro do seu grupo e já sabe que vai perder a eleição no seu reduto. Na
Polícia Federal prosseguem outras investigações que podem levar a novos
indiciamentos tanto dele, quanto do seu candidato no Rio. A direita extrema se
divide e não surge daí uma linha democrática. Do ponto de vista das ideias, a
emergência climática é outra complicação. Atinge em cheio o negacionismo desse
grupo político e da parte do agro que o apoia. Não há mais como negar.
A escolha do
ministro Alexandre de Moraes como
alvo do dia 7 de setembro é bem óbvia. Ele é o presidente do inquérito
que mais ameaça Bolsonaro e a todos os que cometeram crimes na preparação e na
execução da tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por isso, ele diz que Moraes é
“pior do que Lula”. Lula o derrotou em 2022. Moraes pode mandar prendê-lo. O
ataque a Alexandre
de Moraes tentou aproveitar o momento em que o ministro sofreu
desgaste com a suspensão do X e por ter supostamente quebrado o rito ao pedir
ao TSE informações
públicas sobre perfis que defendiam golpe de Estado.
Na
Paulista, Bolsonaro mentiu sobre a eleição que ganhou, a que perdeu e sobre seu
adversário em 2022. Disse que foi eleito por uma falha do sistema em 2018 e que
a eleição de 2022 foi manipulada por Alexandre de Moraes. Ou seja, continua
afirmando ter havido fraude em duas eleições, segue fazendo acusações sem
provas, denunciação caluniosa, contra o sistema eleitoral brasileiro. Isso é
crime e ele é reincidente. Repete porque tem o projeto de minar a confiança na
democracia.
Nem todos os que
votaram em Bolsonaro concordam com essa visão conspiratória sobre as urnas ou
desejam o fim da democracia. Do contrário teríamos 58 milhões de golpistas no
Brasil. Mas é cúmplice quem, no palanque, consentiu pelo silêncio com essa
mentira sobre o processo eleitoral. O governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, por exemplo. Ele nada tem feito que o diferencie do seu ídolo,
apesar do contorcionismo das análises que sustentam ser Tarcísio da direita
moderada.
O fato de Bolsonaro
não ter ameaçado diretamente a democracia não significa qualquer moderação. Ele
agora não tem os poderes que já teve. Era um perigo quando ameaçava as
instituições e tinha de fato o poder de feri-las com a força da Presidência,
com o fato de ser o comandante em chefe das Forças Armadas e com o peso da
máquina pública do Executivo. Agora não tem mais esse poder, exceto o de
continuar incutindo que não se pode confiar no processo eleitoral brasileiro em
quem o segue e em quem vai até uma manifestação convocada por ele.
Ele está sob
investigação por isso e muito mais, dado que foi das palavras para as
conspirações e as ações. Também sob investigação está o seu candidato no Rio de Janeiro, Alexandre
Ramagem. O inquérito da Abin Paralela
tem fartas provas de que o uso mais intensivo da ferramenta First Mile de
espionagem de supostos adversários políticos durante o período em que Ramagem
comandava a Abin. Pior, em 49% das vezes que a ferramenta foi utilizada, isso
ocorreu durante o período eleitoral de 2020. Há muitos outros indícios de crime
de uso da máquina pública contra supostos adversários políticos ou para
favorecer pessoas da família de Bolsonaro.
Ramagem também
representa a maior derrota de Bolsonaro, porque há pouca possibilidade de
reversão do quadro eleitoral no Rio de Janeiro, com vitória praticamente certa
do atual prefeito Eduardo Paes.
O Rio é o reduto no qual Bolsonaro construiu toda a sua vida política e a dos
seus filhos. Eduardo foi para São Paulo por uma circunstância familiar. Na
disputa paulista também o que se vê é que o prefeito Ricardo Nunes foi
esquecido no fundo do palanque e o candidato Pablo
Marçal usou a passeata
para fazer seu show à parte.
A derrota talvez
mais permanente desse grupo político é no negacionismo que eles sempre exibiram
em relação à ciência e à mudança do clima. Os eventos extremos estão levando
prejuízo ao agronegócio, que majoritariamente votou em Bolsonaro. A política do
“passar a boiada” perdeu. A opinião pública está cada vez mais convencida das
causas ambiental e climática. Eles foram derrotados na aposta e no discurso.
Não têm agenda nem resposta para a grave crise do século XXI.
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