Está nas livrarias “A Bem Amada”, do repórter Delmo Moreira. Conta a vida de Aimée Sotto Maior, uma grande mulher. Paranaense, ela se casou em 1932 com Luiz Simões Lopes, o homem que redesenhou o serviço público brasileiro. Em 1937, Aimée começou a namorar o presidente Getúlio Vargas. Por dois anos ele viveu uma paixão fogosa e chamou-a de “A Bem Amada”. Amavam-se até no mato.
Aimée tinha 23 ou 33 anos. Ele, 55. Ela morreu em 2006, aos 93 ou 103, sem jamais contar a idade, “nem para o médico”. Segundo Delmo Moreira, o namoro com Vargas começou quando ela tinha 30 anos. O romance e a intensidade da paixão de Vargas por Aimée só foram revelados em 1995, com a publicação do diário dele. Quando Vargas matou-se, ela pediu à filha apenas que rezasse por ele. Aimée nunca tocou no assunto.
A namorada de Getúlio Vargas poderia ter virado um asterisco na biografia dele, mas foi ele quem virou um capítulo na dela.
Aimée deixou Simões Lopes, Vargas e o Brasil em 1938. Um ano depois, com um modelo desenhado por um jovem figurinista chamado Christian Dior, ela brilhava na última grande festa de Paris antes da invasão alemã. Uma convidada lembraria: “Era tão linda, tão genuinamente agradável e exuberante, coberta de diamantes… Foi praticamente comida viva”'. Nas mesas, um Rothschild, os duques de Windsor, a neta da princesa Isabel e o diabólico embaixador americano William Bullitt, que anos antes dera em Moscou o Baile de Satan.
A linda loura de olhos azuis virou Aimée de Heeren, casando-se com o herdeiro do criador das lojas de departamentos nos Estados Unidos e entrou na lista das mulheres mais elegantes da revista “Time”. Dividia seu tempo entre Biarritz (onde ganhou de Juscelino Kubitschek o consulado do Brasil), Paris, Palm Beach e Nova York, com uma casa em cada cidade.
Numa época em que se falava em “alta sociedade”, ela estava em todas. Quando o magnata mexicano Carlos de Beistegui deu em Veneza uma das grandes festas do pós-guerra, ela estava lá. Encantou o cineasta americano Orson Welles e namoraram por uma semana. “Ele era muito chatinho”, Aimée contaria a uma amiga.
A rainha Elizabeth foi coroada em 1952, e ela estava lá, com o embaixador brasileiro Assis Chateaubriand. (Chatô, saiu da Abadia levando a cadeirinha dos convidados.) Era vizinha de Joseph Kennedy, pai do que seria o futuro presidente americano e imprudente predador das jovens convidadas dos filhos.
Em 1990, quando morreu um nobre alemão de suas relações, ela ligou para uma amiga: “O conde morreu, vamos ao enterro? Vai estar todo mundo lá.” Ao funeral do duque de Buccleuch, ela foi com um tailleur marrom, para não ser confundida com a viúva, pois havia motivos para isso.
Gilberto Freyre, que tinha fixação numa Wanderley do século XIX, encantou-se com ela e chamou-a de Sinhazinha da Várzea do Capibaribe: “Não há nenhuma, porém, que seja tão sinhá, como Aimée, Condessa de Heeren.” Condessa, ela nunca foi.
Aimée veio ao Brasil pela última vez em 1996. Dizia que Pindorama ficava “muito longe”. Morreu dez anos depois, em Nova York. Na juventude, ela foi de zepelin para a Suíça. Mais tarde, voou no supersônico Concorde para Paris.
Sua casa de Nova York foi vendida em 2007 por 33 milhões de dólares. O leilão do mobiliário mostrou que, na segunda metade do século XX, ela tinha o gosto dos ricaços do XIX.
Bolsonaro dinástico
Há dois meses, circulava no entorno de Jair Bolsonaro a ideia de se colocar sua mulher, Michelle, na vice de um candidato conservador à Presidência da República. Isso, na hipótese provável de ele não se livrar da inelegibilidade.
Não se pode dizer se a nova variante apareceu antes ou depois da eleição municipal mas, hoje, circula a ideia de se colocar seu filho, o senador Flávio Bolsonaro na cabeça da chapa.
Essa manobra só deu certo em 1831. Quando D. Pedro I foi para Portugal. À época, o Brasil era uma monarquia.
Boa notícia
As coisas boas também acontecem. Há três anos o Brasil vivia um pesadelo com um governo que insuflava os militares contra vacinas e urnas.
Depois do êxito do resgate de 1.500 brasileiros da Faixa de Gaza e de Israel, a Força Aérea já tirou outros 672 do Líbano e estima repatriar três mil pessoas.
Lula recebeu o primeiro grupo em Brasília, e a operação segue, sem estardalhaço. Parece pouca coisa, mas outros países mais abonados disseram aos seus cidadãos que se virassem. Entre os resgatados pela FAB, vieram também argentinos e uruguaios.
Em 2020, as coisas eram diferentes. No início da pandemia, a China fechou a cidade de Wuhan onde viviam 11 milhões de pessoas e algumas dezenas de brasileiros. No final de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro descartou a ideia de um resgate:
“Custa caro um voo desses. Na linha, se for fretar um voo, acima de US$ 500 mil o custo. Pode ser pequeno para o tamanho do orçamento brasileiro, mas precisa de aprovação do Congresso.”
Em fevereiro o vírus já havia se espalhado e o governo mudou de ideia.
Fala o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em seu livro “Um paciente chamado Brasil”:
“A operação foi montada para trazer 34 pessoas, mas foram usados quatro aviões e 120 pessoas para resgatá-las, um exagero. Eu disse aos militares que era prudente enviar o menor número de pessoas possível, mas mandaram gente do Exército até para filmar o resgate.
(...) Montaram uma área de convivência onde os resgatados podiam se encontrar, coisa que ninguém nunca viu num confinamento de combate a uma epidemia.
Havia um cinema onde todos ficaram juntos para assistir a um filme escolhido a dedo pelos militares: Epidemia.”
O dilema de Lula
Lula quis ficar longe da frigideira nas disputas pelo primeiro turno. Talvez tenha sido uma má ideia. Com 15 eleições em capitais na próxima rodada, a chapa esquentou.
Se ele entrar de cabeça, só poderá proclamar vitória onde tiver conseguido virar o jogo, e essas capitais parecem ser poucas.
Cachorros grandes
Foi má a ideia do então ministro do Supremo Tribunal Ricardo Lewandowski de trancar a ação que contestava a lisura dos 36 caças suecos Gripen. Como ensinou o juiz Louis Brandeis, a luz do Sol é o melhor detergente.
Passaram-se mais de dois anos e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos entrou no caso, pedindo informações aos fabricantes suecos.
O mercado mundial de armamentos é uma briga de cachorros grandes, e os americanos não gostam de perder encomendas. O edital da compra dos jatos mexia com 4,5 bilhões de dólares.
O pior que pode acontecer é um replay das promiscuidade de procuradores brasileiros com funcionários americanos durante a Lava-Jato.
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