A economia e o cuidado com a vida diária, especialmente das mulheres, maioria nas cidades, serão decisivos no segundo turno
O primeiro turno das eleições municipais deu muitos sinais ao mundo político. Notamos eleitores dispostos a continuar manifestando sua indignação contra tudo e todos, como o meu amigo Rafael, morador de uma favela em São Paulo. Ele não queria candidatos já conhecidos. Jovem, faz um discurso crítico às políticas sociais como única forma de diálogo com as favelas.
Rafael reconhece a importância do Bolsa Família, mas afirma que não deseja depender do Estado, pois quer montar o próprio negócio. Seu candidato não foi para o segundo turno, e agora ele está indeciso.
A jovem de uma favela de Maceió votou pela reeleição do prefeito JHC (PL), que, teoricamente, é conservador. No entanto observou mudanças positivas em sua comunidade e decidiu lhe dar uma segunda chance, acreditando que ele poderá concluir o que começou. JHC venceu com 83,25% dos votos. Numa favela do Recife, Júnior, um motoboy, votou em Jair Bolsonaro em 2022, mas desta vez optou por João Campos (PSB). Para ele, apesar de Campos apoiar Lula, é um político decente, que fez muito pelas favelas e pela cultura do brega, com que se identifica.
No Rio, as favelas enfrentam dilemas diários, mas Eduardo Paes (PSD) foi reeleito em primeiro turno. Ouvi muitas pessoas de diferentes favelas — próximas ou distantes da Zona Sul — dizendo que, apesar das dificuldades, Paes é um trabalhador que ama o Rio. A imagem afetiva do político em relação à cidade tem sido um ativo importante, sobrepondo-se ao aspecto político.
Ouvi também Luiza, jovem cabeleireira de uma favela em Belém, no Pará. Ela votou pela mudança. Anteriormente, havia escolhido o atual prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), mas agora preferiu Igor (MDB), apoiado pelo governador Helder Barbalho, que concorre contra o Delegado Eder Mauro (PL) no segundo turno. Ela me confidenciou que está preocupada com a segurança, mas, como confia no governador, acredita que deve dar uma chance à renovação.
Em Porto Alegre, o atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), foi para o segundo turno contra Maria do Rosário (PT). Conversei com eleitores de ambos. Júnior, evangélico, votou na candidata do PT. Diz que está na hora de a igreja sair da briga política e que sente saudades dos tempos em que o PT governava a capital gaúcha. Genésio, comerciante, votou em Melo pela segunda vez, pois gosta de seu jeito direto e simples.
Viajarei por mais algumas cidades no segundo turno e, na próxima coluna, trarei mais impressões para compartilhar com vocês. Notei até agora que há espaço para todos os perfis: os candidatos antigos, que entenderam a mudança na comunicação; os novos, que dominam os meandros da política tradicional sem perder de vista as transformações; e os bons gestores.
A economia e o cuidado com a vida diária, especialmente das mulheres — maioria nas áreas urbanas e chefes de mais da metade das famílias —, serão decisivos. Além disso, vejo uma forte influência religiosa, que me parece mais diversa agora do que antes, com o cansaço da polarização começando a aparecer. A juventude reflete, de um lado, a radicalização e a insatisfação; de outro, a busca de sonhos. Quer ajuda do Estado, mas deseja ser protagonista de seus próprios projetos.
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