Este jornal chega aos 150 anos fiel a seu propósito
inaugural: a defesa irrenunciável da liberdade, adaptando-se aos desafios de
seu tempo sem jamais abandonar seus princípios editoriais
A publicação de um jornal manifestamente republicano em 4 de
janeiro de 1875 foi, antes de qualquer coisa, um ato de extrema coragem de seus
fundadores, em particular de Américo de Campos, Francisco Rangel Pestana e,
pouco depois, Júlio Mesquita. Escrutinar o poder da Coroa foi apenas o primeiro
dos inúmeros desafios que o futuro reservava para aquele então modesto
periódico.
Recorde-se que, quando este jornal circulou pela primeira
vez, há exatamente 150 anos, o Brasil vivia sob o regime monárquico. Aqui não
havia cidadãos, mas súditos. Logo, não havia igualdade de todos perante a lei,
muito ao contrário: havia escravidão. São Paulo era uma província com cerca de
837 mil habitantes, de acordo com o Censo de 1872. Daí o seu primeiro
nome, A Província de São Paulo.
A Província de São Paulo também ganhou as ruas naquela
segunda-feira como uma profissão de fé, uma afirmação de valores que, quando
materializados em ações – seja pelo poder público, seja pela iniciativa privada
–, têm o condão de fazer do Brasil um país mais livre, justo e próspero para
todos. Um século e meio depois, o distinto leitor encontra em cada um dos
editoriais publicados por este jornal a defesa aguerrida dos mesmíssimos
compromissos assumidos em sua edição inaugural. Não por recalcitrância, mas por
firmeza na crença de que a defesa da liberdade, em suas múltiplas dimensões, é
irrenunciável e imune ao transcurso do tempo.
A rigor, a fundação deste jornal foi o desdobramento natural
de um movimento cívico que culminaria, 13 anos depois, na abolição da
escravidão no País e, logo em seguida, na Proclamação da República. Foi a
partir desse evento que São Paulo deixou de ser uma província e o jornal adotou
o nome pelo qual é conhecido até hoje: O Estado de S. Paulo.
Além da coragem, a marca deste jornal hoje sesquicentenário
é a independência. Para servir à causa da liberdade e do respeito às leis,
o Estadão se estabeleceu como uma empresa jornalística financiada por
seus próprios meios. Só assim estaria livre para exercer um jornalismo
profissional e independente, de modo a estar “em posição de escapar às
interposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos
que aspiram ao poder”, como enunciado já no primeiro editorial.
Desde então, o Estadão tem se adaptado a cada um
dos desafios de seu tempo ao longo desses 150 anos, mantendo-se na vanguarda do
jornalismo, mas sem jamais abandonar seus princípios fundadores e compromissos
editoriais. Aquele jornal logo passaria para as rotativas elétricas para se
firmar como um jornal moderno e dinâmico não apenas para São Paulo, mas para o
Brasil.
Do papel às plataformas digitais, do linotipo aos
algoritmos, este jornal registrou e absorveu todas as transformações dos meios
de comunicação para continuar a cumprir o seu dever de informar a sociedade com
rigor técnico, ética e respeito à verdade factual. Assim era no início, assim é
hoje e assim sempre será.
A chamada revolução tecnológica trouxe inúmeros desafios.
O Estadão, ao invés de receá-los, abraçou as novas possibilidades e
adaptou-se a cada uma das demandas da sociedade do século 21, criando versões
digitais de suas publicações, aumentando os investimentos em jornalismo de
dados e, não menos importante, incorporando a excelência de sua produção
editorial às novas plataformas audiovisuais a fim de diversificar os meios
pelos quais chega até os seus leitores.
Quando pisou na redação de A Província de São
Paulo pela primeira vez, ainda como redator, em 1888, Júlio Mesquita
encontrou um jornal que tinha exatos 904 assinantes. Em 1927, ano de sua morte,
48.638 pessoas pagavam para receber O Estado de S. Paulo todos os
dias em casa, como registra Jorge Caldeira, escritor e imortal da Academia
Brasileira de Letras, em sua portentosa obra Júlio Mesquita e Seu
Tempo (2015).
Essa extraordinária transformação de um periódico
provinciano no jornal que o Estadão é hoje é a prova maior de que
firmeza de propósito, respeito aos fatos e compromisso com a democracia e com o
desenvolvimento do Brasil não saem de moda e ainda compensam.
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