A avaliação do governo Lula contrasta fortemente com a
dos governadores pesquisados pela Genial/Quaest, que estão com 60% de
aprovação, em média
Engana-se quem vê o ex-presidente Jair Bolsonaro como a
sombra que ofusca o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O maior concorrente
do petista é o Lula do segundo mandato. Esse é o preço de uma campanha
eleitoral para voltar ao poder sem um programa de metas de acordo com a nova
realidade e calcado no resgate de sua gestão anterior. A
"reconstrução" do slogan do governo, em tese, uma crítica ao desmonte
das políticas sociais pelo governo Bolsonaro, tem como mensagem subliminar
exatamente isso, a volta ao passado de 2010, o que é impossível 15 anos depois.
Lula está na situação do Príncipe que já não pode contar com
a Fortuna, um contexto histórico favorável, e depende apenas de suas próprias
virtudes para se manter no poder, como diria o velho e indispensável Nicolau
Maquiavel. A conjuntura é completamente adversa, esgotou-se a possibilidade de
navegar num ambiente econômico de expansão da globalização e de mudanças
demográficas favoráveis (a ampliação do número de pessoas com renda própria nas
famílias). Mas ainda há a soberba reinante na "jaula de cristal" do
Palácio do Planalto: "Tem gente que só vem aqui para nos ensinar a
governar".
A avaliação do governo Lula, que está com
rejeição de 41% e 24%, de aprovação (Datafolha), contrasta fortemente com a dos
governadores dos estados pesquisados pela Genial/Quaest, entre 19 e 23 de
fevereiro, que estão com 60% de aprovação, em média. Alguns deles são
candidatos declarados às eleições presidenciais de 2026. Casos do governador de
Minas, Romeu Zema (Novo); de Goiás, Ronaldo Caiado (União); e do Paraná,
Ratinho Junior (PSD), todos em segundo mandato. Eduardo Leite (PSDB) perdeu o
bonde e deve se candidatar ao Senado.
Caiado obteve os melhores números da pesquisa. Seu governo é
aprovado por 86% dos entrevistados, enquanto apenas 9% desaprovam sua gestão.
Mais antigo adversário de Lula nas eleições de 2026, pois também concorreu à
Presidência em 1989, a candidatura de Caiado é irreversível. Com o agronegócio,
do qual o governador goiano é um líder histórico, seu estado se tornou um eixo
dinâmico da nossa economia do sertão. Caiado tem 74% de avaliações positivas,
contra 17% de regulares e 4% de negativas.
No Paraná, Ratinho Júnior também tem ampla aceitação, com
81% de aprovação e apenas 14% de rejeição. Na avaliação qualitativa de
desempenho, ele aparece com 65% de avaliações positivas, 24% de regulares e 6%
de negativas. É candidato à Presidência pelo PSD, apesar das resistências do
seu chefe político, Gilberto Kassab, que lhe promete a legenda, mas não o apoio
unificado do partido.
Virado à paulista
Zema é outro adversário de Lula em 2026. No segundo colégio
eleitoral do país, aparece com 62% de aprovação. A desaprovação está em 30%. Na
avaliação qualitativa, ele apresenta um quadro semelhante, com 41% de
avaliações positivas, 37% regulares e 14% negativas. Apesar de estar no segundo
mandato, o governador mineiro manteve um perfil de candidato antissistema, com
narrativas disruptivas em relação à política tradicional. Veste o figurino do
mineiro do interior, que tem como maior sofisticação a simplicidade nata e
carrega nos diminutivos.
Mas o fantasma que ronda o Palácio do Planalto é a
candidatura de Tarcísio de Freitas, que tem 61% de aprovação. A desaprovação do
governador paulista é de apenas 28%. Na avaliação qualitativa, Tarcísio tem 41%
de avaliações positivas, 34% de regulares e 14% de negativas. Seu chefe da Casa
Civil, Kassab, defende sua candidatura à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes,
mas as pressões da elite paulista, principalmente do agronegócio e do mercado
financeiro, a chamada Faria Lima, é para que concorra à Presidência. A queda de
popularidade de Lula alavanca essa candidatura. Se Lula não concorrer à
reeleição, a pressão aí será irresistível.
Nesta quinta-feira, Lula e Tarcísio estiveram juntos no
lançamento da obra do túnel submerso Santos-Guarujá e trocaram elogios
recíprocos à convivência administrativa. Alguns fatores levam Tarcísio a
priorizar a reeleição ao governo paulista: a possibilidade de vencer já no
primeiro turno, um governo com recursos bilionários para investimentos no seu
segundo mandato e o risco de cair do cavalo, como ocorreu com outros
governadores paulistas: Orestes Quércia (MDB), José Serra e Geraldo Alckmin
(PSDB). O caso de João Doria (PSDB) é um ponto fora da curva; remover sua
candidatura foi um surto suicida dos tucanos paulistas.
Nada disso, porém, é o verdadeiro obstáculo à candidatura de
Tarcísio. O que realmente a impede é a dificuldade de remover os demais
concorrentes e unificar o centro político contra Lula. Nesse cenário de
dispersão, o ex-presidente Jair Bolsonaro pode levar seu filho, o deputado
Eduardo Bolsonaro, ao segundo turno. Por essa razão, as forças que apoiaram a
reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) trabalham para reproduzir seu arco de
alianças em níveis nacional e regional. Como? Com Nunes candidato ao Palácio
dos Bandeirantes e a entrega da prefeitura ao vice, coronel da Polícia Militar
paulista Mello Araujo, homem de Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro seria candidato ao
Senado e Tarcísio disputaria a Presidência com apoio de Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário