Escolha de Lula foi criticada por não atender a siglas
aliadas que reivindicam mais espaço na Esplanada
A posse dos ministros Alexandre
Padilha, na Saúde, e Gleisi
Hoffmann, na Secretaria de Relações Institucionais, em evento ontem no
Palácio do Planalto, foi marcada por recados
ao Congresso, sinalizações sobre 2026 e a ausência de parte dos líderes do
Centrão. A escolha do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pelos dois novos ministros, ambos filiados ao PT, foi
criticada nos bastidores por não atender a siglas aliadas que reivindicam mais
espaço na Esplanada.
As trocas foram as primeiras da reforma ministerial prevista
por Lula para a segunda metade do mandato, quando passou a enfrentar queda
vertiginosa de popularidade. As nomeações de Padilha e, em especial, Gleisi,
ex-presidente do PT, foram vistas por aliados como uma guinada à esquerda do
governo, principalmente pelas críticas públicas que ela já fez à pauta
econômica do ministro Fernando Haddad. Ao tomar posse, Gleisi adotou um tom de
conciliação, com acenos tanto ao titular da Fazenda quanto ao Congresso.
— Tenho plena consciência do meu papel, que
é da articulação política. Estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar
nas consolidações das pautas econômicas do governo. Pautas que você conduz e
que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego, do crescimento e da
renda — disse Gleisi, acrescentando que “cumprirá acordos” com o Congresso. —
Devemos fazer política para somar, respeitando adversários, construindo
alianças e cumprindo acordo legitimados no interesse do país e da população — afirmou
ela.
‘Críticas e sugestões’
Sob o comando de Gleisi, o PT chegou a divulgar nota na qual
chamava medidas do agora colega de Esplanada de “autericídio fiscal”. A
indicação da ex-dirigente partidária para assumir a articulação política do
governo também gerou desconfiança entre aliados, uma vez que a petista tem
histórico de embates com parlamentares.
Sentados no palco do evento ao lado de Lula, os presidentes
da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ouviram da ministra promessas de
parceria.
— Quero manter a relação respeitosa, franca, solidária e
direta. Não tenham dúvidas que estarei sempre aqui para conversar, ouvir
críticas e acolher sugestões — disse Gleisi.
A principal pauta do governo no Congresso para 2025 é
aprovar a reforma que prevê isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$
5 mil por mês. O texto, contudo, ainda está em discussão no governo. A promessa
de campanha de Lula deve valer apenas a partir de 2026, ano eleitoral, caso
seja aprovada pelos parlamentares até lá.
Também uma das prioridades do governo, o Congresso pode se
debruçar sobre a limitação dos supersalários no serviço público. A ideia é usar
um dos projetos que já estão no parlamento para retomar o assunto, já que a
medida do pacote de corte de gastos que endurecia as regras para a
contabilidade do teto salarial foi desidratada pelos parlamentares. Esse tema
foi tratado por Haddad com os líderes do Senado em fevereiro.
Além disso, há pressa da equipe econômica em aprovar o
Orçamento de 2025, que teve a análise adiada pelos parlamentares diante de um
impasse com o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pagamento de emendas.
Substituta do próprio Padilha na articulação política,
Gleisi almoçará hoje com líderes da Câmara. O objetivo, além de desenhar
prioridades na agenda de votações, será a articulação com as legendas para
ampliar o espaço das siglas aliadas no governo. Segundo interlocutores, a nova
ministra deverá organizar uma nova fase da reforma ministerial em acordo com o
presidente da Casa, Hugo Motta, e com aval de Lula.
No domingo, véspera da posse, a nova ministra se reuniu com
Motta em Brasília para dar o pontapé inicial nas articulações. No mesmo dia, se
encontrou com o líder do MDB,
Isnaldo Bulhões (AL), que chegou a ter o nome cotado para assumir a Secretaria
de Relações Institucionais em seu lugar.
Isnaldo foi um dos poucos líderes dos partidos de centro a
comparecer na posse da nova ministra em Brasília. Apesar de ter sido uma
cerimônia lotada, em que foi preciso utilizar um salão a mais no Palácio do
Planalto para acomodar todos os convidados, poucos líderes de partidos aliados
da Câmara e do Senado estiveram presentes.
Entre os líderes da Câmara, nomes como Gilberto Abramo (MG),
do Republicanos, Doutor Luizinho (RJ), do PP, e
Antonio Brito (MG), do PSD, não
participaram do evento no Palácio do Planalto. Já entre os senadores, o líder
do União, Efraim Filho (PB), assim como o do MDB, Eduardo Braga (AM), e do PSD,
Otto Alencar (BA), não foram. Todos eles disseram que estavam fora de Brasília.
Ao mesmo tempo em que precisará contornar as desconfianças
de partidos da base, Gleisi terá de lidar com a artilharia que a oposição
prepara para surfar na queda de popularidade de Lula. A intenção é pressionar
com convocações de ministros e pedidos de informação. Aliados do ex-presidente
Jair Bolsonaro têm também como missão destravar a proposta de anistia aos
condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
Embate com a oposição
Em seu discurso, Gleisi deu indícios de que seu papel na
pasta também será o de fazer o enfrentamento à oposição, já tendo em vista a
disputa eleitoral de 2026, quando o próprio Lula ou um nome apoiado por ele
deve concorrer contra o candidato do bolsonarismo. A avaliação no Planalto é
que o governo ficou carente de ministros com perfil mais combativo após a saída
de Flávio Dino, no início de 2024, para assumir uma cadeira no Supremo. A
aposta é que a nova titular das Relações Institucionais possa exercer esse
papel.
— Ao fim da duríssima campanha de 2022, a democracia venceu
nas urnas pela vontade popular, e venceu a trama golpista do 8 de janeiro —
disse ela, que agradeceu ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, pelas
investigações que resultaram na denúncia de Bolsonaro e outras 33 pessoas por
suspeitas de envolvimento em trama golpista.
Além dos embates políticos, Gleisi assume o cargo no governo
com a missão de costurar alianças para a campanha presidencial de 2026, tanto
para o caso de Lula disputar novo mandato como para o de ele indicar outro nome
para a sucessão. Um dos motivos citados para que ela fosse a escolhida como
ministra foi o trabalho em 2022, quando coordenou a campanha petista e ajudou a
articular uma frente ampla de partidos.
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