Governadora deixa PSDB após críticas ao partido por
oposição a Lula e diz que recebeu em nova sigla 'a acolhida necessária'
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra,
filiou-se ao PSD na
noite desta segunda-feira (10) no Recife. O evento de filiação contou com
participação de líderes do partido, como o presidente nacional da
legenda, Gilberto
Kassab.
Raquel Lyra deixa após nove anos o PSDB, que está sob um
processo de fragilização da força política nos últimos anos. A chefe do
Executivo pernambucano também busca se fortalecer para uma eventual disputa em
2026 contra o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
No evento, Raquel agradeceu ao "partido que me acolheu
nos últimos nove anos" e disse que agora "é um novo momento" no
PSD. "Encontrei no PSD a acolhida necessária para ajudar na construção do
partido e no fortalecimento dele no Nordeste. É um novo começo."
Em discurso após a filiação, ela disse que
é preciso "um partido que fuja de polarizações e que contribua com o
futuro do nosso país". A governadora também atacou o prefeito do Recife,
sem citá-lo diretamente. "Não estamos aqui esquentando cadeira para quem
acha que é dono do poder. A mudança está só começando", disse.
Em pronunciamento, Kassab anunciou que a governadora
assumirá a presidência do partido em Pernambuco. O pai da governadora, o
ex-governador João Lyra Neto, também vai se filiar ao PSD, deixando o PSDB.
"Está começando um período de entregas para a
população. Raquel, se reeleita governadora, no dia seguinte, Pernambuco vai
perceber que o Brasil vai começar a sonhar com a hipótese de Raquel ser
presidente da República", disse o chefe do PSD.
Raquel ingressou no PSDB em 2016, quando não conseguiu aval
do PSB, seu então partido, para ser candidata a prefeita de Caruaru. Após
receber abrigo tucano, venceu a disputa e foi reeleita em 2020. Em 2022, se
elegeu governadora sem coligação e após ter, no primeiro turno, o menor tempo
de propaganda dentre os cinco principais candidatos da disputa, contrariando os
prognósticos políticos.
Desde meados de 2023, ela recebeu sondagens do PSD para uma
filiação visando às eleições de 2026. O processo se consolidou em fevereiro
deste ano. O MDB também foi cogitado como destino, mas a governadora optou pelo
partido de Kassab.
Em entrevista
concedida à Folha em dezembro, ela havia afirmado que o PSDB
foi "ficando pequeno" ao longo do tempo e que isso mostrava "que
algo está errado".
Raquel também expôs divergências públicas em relação à
postura do PSDB de fazer oposição ao governo Lula. "O PSDB não foi
oposição ao governo Bolsonaro e se colocou, há cerca de um ano, como 'farol da
oposição' ao governo do presidente Lula, sem ter um
projeto que pudesse apontar para o que queremos adiante", disse, em
fevereiro, à TV Bandeirantes.
A migração para o PSD deixa a governadora mais próxima do
governo Lula, mas aliados do petista em Pernambuco são céticos quanto a uma
aproximação efetiva para 2026. Petistas locais avaliam que a governadora não
faz gestos políticos em direção ao presidente.
Em entrevista coletiva, a governadora disse que já tem uma
relação de proximidade com o governo federal e que sempre tem contado "com
a contribuição" da gestão de Lula. "Institucionalmente, o governo tem
nos acolhido desde o primeiro momento e tem dado demonstrações claras de quer
ajudar o nosso estado a recuperar o protagonismo."
O PSD integra o governo Lula com três ministros: André de
Paula (Pesca), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Carlos Fávaro
(Agricultura). O partido também é aliado do governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos), afilhado político do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL). Kassab é secretário de Governo da gestão de Tarcísio.
Para tentar manter o controle do PSDB, Raquel articulou a
filiação da vice-governadora Priscila Krause, que deixou o Cidadania, ao
partido. Há um temor no entorno da governadora de que o comando da sigla passe
para o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, seu desafeto
político.
A governadora externou a interlocutores nos últimos dias sua
insatisfação com o ex-deputado federal Bruno Araújo, que ficará responsável por
definir o futuro do PSDB em Pernambuco. Para aliados de Raquel, o ex-presidente
nacional do PSDB teria preferência por Álvaro Porto. Por enquanto, a sigla
continua presidida no estado por Fred Loyo, empresário próximo a Raquel.
Ainda segundo aliados, Kassab prometeu a Raquel Lyra o teto
do fundo eleitoral para a disputa de 2026 em Pernambuco. Possível adversário da
governadora, o prefeito João Campos se tornará presidente nacional do PSB em
maio.
Pesquisa Quaest divulgada em fevereiro mostra que o governo
Raquel Lyra é aprovado por 51% da população e reprovado por 44%. Já nas
intenções de voto, a governadora tem 28%, ante 56% de João Campos.
Dessa forma, a avaliação no governo é que o principal
desafio é a conversão da aprovação em votos. Para isso, a governadora aposta na
entrega de ações, principalmente no interior. A gestão estadual também quer
avançar as ações na região metropolitana do Recife, reduto de João Campos e
onde moram 42% dos eleitores do estado.
Em Pernambuco, desde 2024 Raquel tem tido influência no PSD.
Com articulação dela, o partido cresceu de 14 para 20 prefeitos eleitos em
Pernambuco, atrás de PSDB (32), PSB (31), PP (24) e Republicanos (22).
A tendência é que a maioria dos prefeitos do PSDB siga
aliado a Raquel, independentemente dos rumos do partido no estado.
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