Filiação de Lyra ao PSD coloca partidos da base de Lula
no governo de todos os estados do Nordeste
Kassab chegou a projetar a nova correligionária como
possível candidata à Presidência da República em 2030
Com a presença de três ministros do presidente Lula,
a governadora
de Pernambuco, Raquel Lyra, oficializou na noite de ontem sua migração
do PSDB para
o PSD.
Com essa movimentação, todos os estados do Nordeste passam a ser administrados
por partidos aliados ao Palácio do Planalto. A ex-tucana realiza a troca
partidária de olho em sua campanha à reeleição no ano que vem, quando deve
enfrentar o prefeito do Recife, João Campos (PSB),
próximo de Lula, que foi alfinetado na solenidade.
— Não estamos aqui esquentando cadeira para quem quer voltar
ao poder — afirmou, em referência aos 16 anos que o PSB esteve à frente do
estado. — Estamos fazendo um projeto.
A filiação de Raquel Lyra a
um partido da base do governo federal coloca o Palácio do Planalto em posição
delicada caso decida apoiar Campos nas eleições do ano que vem.
Na solenidade, a governadora agradeceu ao
PSDB, partido pelo qual disputou três eleições, e destacou a persistência
de Gilberto
Kassab, presidente nacional do PSD, durante as negociações que se
arrastavam desde outubro do ano passado. Kassab esteve ao lado da governadora
durante o discurso de filiação.
— Já me sinto em casa e chego para ajudar na construção de
um Nordeste novo e um país novo (...) No PSDB aprendi muito, mas chegou a hora
de fechar um ciclo e iniciar um novo — disse a governadora, em um evento
marcado por um clima de festa, com locutor, jingle e discursos em prol de sua
reeleição.
Ministros prestigiam
O evento de filiação ocorreu no Recife e contou com a
presença dos três ministros de Lula que fazem parte do PSD: Alexandre
Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de
Paula (Aquicultura e Pesca). As senadoras Eliziane Gama (MA) e Zenaide Maia
(PB) também prestigiaram a pernambucana.
Em seu discurso, Kassab afirmou que Lyra é uma das mulheres
mais proeminentes da política atual e manifestou confiança de que ela será
reeleita em 2026. O dirigente chegou a projetar a governadora como possível
candidata à Presidência da República em 2030.
— Não tenho dúvidas de que, com a reeleição de Raquel, o
Brasil começará a sonhar com ela na Presidência — afirmou Kassab, que também
anunciou a nomeação da governadora como presidente estadual do partido,
substituindo André de Paula.
Primeiro a discursar, André de Paula disse estar emocionado
com a filiação de Lyra, a quem classificou como uma das maiores lideranças
nacionais:
— Hoje, estou entregando a presidência estadual a Raquel
Lyra, que nos liderará. Raquel, você sabe que eu tinha uma vontade enorme de
estar ao seu lado. A casa é sua, e nós vamos ganhar a próxima eleição.
Alexandre Silveira, por sua vez, prometeu auxílio à
governadora na Esplanada, em nome dos três titulares presentes:
— Nós, três ministros, vamos trabalhar para defender os
interesses de Pernambuco com Raquel. Nós estaremos de mãos dadas para mostrar a
importância de você continuar defendendo os interesses como governadora (...)
nossos gabinetes vão se estender por todos de Brasília.
PT dividido no estado
Nas últimas semanas, a governadora tem intensificado
articulações em Brasília, especialmente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa
(PT). Em Pernambuco, o PT está dividido. Enquanto a ala estadual apoia Lyra, o
diretório municipal mantém aliança com João Campos.
Políticos críticos ao governo Lula também participaram do
evento de filiação ontem, como o prefeito de São Luís, Eduardo Braide.
A saída de Raquel Lyra do PSDB reflete a fragilidade do
partido. No PSD, a governadora terá mais acesso a recursos partidários,
considerados estratégicos para sua candidatura à reeleição em 2026. Outro fator
relevante é o tempo de propaganda na TV. Com 42 deputados federais, o PSD
oferecerá a Lyra um horário eleitoral gratuito significativamente maior.
Apesar da aproximação com o governo federal, Kassab negou
que essa tenha sido a motivação da mudança partidária.
— Ela não veio para o PSD por estar próxima ou distante de
Lula. Ela veio ao PSD porque é um partido em crescimento, compatível com a
presença de uma governadora. Um governador ou uma governadora precisa de um
partido forte, e o Brasil caminha para ter poucos e grandes partidos — disse
Kassab, que integra a gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), considerado herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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