Com Trump, ego presidencial é tão decisivo quanto
interesses do país para definir política externa dos EUA
Ações do novo inquilino da Casa Branca já fizeram ordem
internacional regredir mais de um século
O problema de os EUA terem se tornado uma republiqueta é que
ficou mais difícil prever como a principal potência econômica e militar do
planeta se comportará no plano internacional.
Até não muito tempo atrás, presidentes americanos perseguiam
aquilo que identificavam como interesses do país, que eram mais ou menos
conhecidos. Com Trump 2,
o jogo mudou. Hoje, um dos principais fatores a determinar a política externa
dos EUA é o ego do presidente, que é volúvel e caprichoso.
Em algum grau, a personalidade de um líder
sempre conforma suas ações. Dá até para afirmar que democracias têm um problema
de seleção adversa, já que o próprio sistema eleitoral favorece a assunção de
governantes de ego mais inflado enquanto a boa administração exigiria figuras
menos cheias de si, capazes de reconhecer erros e abandonar ideias favoritas à
medida que recebam novas informações.
Os níveis egoicos de Trump, porém, não estão no padrão dos
de líderes democráticos mas sim no de ditadores. Talvez até no de tiranos
ensandecidos, como
Idi Amin Dada, que se fazia chamar "senhor de todos os animais da
terra e peixes dos mares".
Multiplicam-se os sinais de que Trump entrou com tudo no
ramo do culto à personalidade. Ele acaba de incorporar
seu nome ao Kennedy Center for the Performing Arts, que passou a chamar-se
Trump Kennedy Center, e anunciou que a Marinha vai desenvolver a classe Trump
de belonaves. Um navio é pouco, ele quer uma classe inteira.
O personalismo não funciona sempre para o mal. Em sua
campanha pelo Nobel da Paz, Trump forçou Israel a suspender
a carnificina em Gaza e mediou alguns cessar-fogos mundo afora.
Os pontos positivos, porém, nem de longe compensam o estrago
que ele causou à ordem internacional, que regrediu uns cem anos. A ideia de um
mundo pautado por regras que valem para todos e no qual as diferenças são resolvidas
pela diplomacia e não pela força, que nunca chegou a ser plenamente
implementada, hoje parece menos do que um sonho distante.


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