Por José Roberto de Toledo, colunista do O Estado de S.Paulo
Mudam divisórias, PT e PSB ganham mais espaço, PMDB e PSDB
perdem salas, mas as estruturas do edifício do poder continuam inalteradas no
Brasil. Os petistas ocupam a cobertura há 10 anos, mas o restante do prédio é
dividido entre 30 condôminos. O PT elege o síndico, mas não administra o
condomínio sem ceder poder a outros. Ninguém tem hegemonia. E é bom que seja
assim.
O PT sai maior das urnas, mas com direito a ocupar apenas
11% das prefeituras e a governar 20% do eleitorado local. Tudo bem que isso
inclui o canto mais populoso do edifício, a sala São Paulo, mas está longe de
configurar um domínio da política brasileira. O partido de Lula cresce, mas não
é o único. O PSB vem na cola e tem seus próprios planos.
O partido do governador Eduardo Campos, de Pernambuco,
elegeu 131 prefeitos a mais do que em 2008 e entrou para o seleto clube dos
10%: os prefeitos do PSB passarão a governar uma fatia que corresponde a 11% do
eleitorado local a partir de janeiro. A sigla dobrou o que conseguira quatro
anos atrás: governará 15 milhões de eleitores. Só outros três partidos estão
nesse clube.
A base municipal obtida pelo PSB é necessária para o partido
barganhar melhores condições numa coligação presidencial, mas, sem articulações
com outras siglas, é insuficiente para lançar o governador pernambucano à
sucessão de Dilma Rousseff (PT) na disputa de 2014. Por isso, devem crescer as
conversas de Campos com os tucanos, por exemplo.
O PSDB viu sua participação no bolo do eleitorado municipal
cair de 14% para 13% nesses quatro anos. A maior queda foi a do PMDB: de 22%
para 17% do eleitorado municipal. A fatia do PT cresceu de 16% para 20%.
Todas essas participações são maiores do que o pedaço do
bolo que está no prato de Eduardo Campos, por enquanto. Mas o tamanho e a distribuição
das fatias devem continuar mudando mesmo depois de terminada a apuração.
Há, por exemplo, as conversas de fusão entre o PP de Paulo
Maluf com o PSD de Gilberto Kassab. O primeiro encolheu, e o segundo roubou
prefeitos e prefeituras de todos os partidos médios e virou uma sigla com boa
penetração nos rincões do Brasil profundo. O PSD é uma contradição em termos:
cresceu, mas encolheu. Os seus 497 novos prefeitos governarão, juntos, um
eleitorado equivalente ao que Kassab deixará de governar.
Mesmo assim, se PSD e PP virarem PSDP ou PPSD comandarão 966
prefeituras e governarão 16 milhões de eleitores. Ficariam em segundo lugar no
ranking de prefeitos e em quarto no de eleitorado a governar. Como serão, na
imensa maioria, cidades pequenas, não devem movimentar muito dinheiro, mas, a
depender a distribuição geográfica, têm potencial para eleger a terceira ou
quarta maior bancada de deputados federais em 2014.
Falsa hegemonia. Colocados em perspectiva, os avanços do PT
mostram que o partido de Dilma e Lula está longe de ter se tornado hegemônico:
89% das prefeituras e 80% do eleitorado municipal estarão nas mãos de outras
legendas partidárias. Não dá para fazer o que bem entender na assembleia do
condomínio sem colher uma reação negativa dos outros condôminos. O poder
petista é consorciado. Para ser exercido continuará dependente de alianças.
O resultado do 2.º turno em si mostra que quando o PT
enfrenta um duelo dois a dois e seu desempenho piora bastante. Dos 22 segundos
turnos que disputaram, os petistas ganharam só em oito municípios. A taxa de
sucesso foi de apenas 36%, praticamente duas derrotas para cada vitória.
Essa é uma característica do PT. Para continuar crescendo, o
partido de Lula precisará fazer um esforço cada vez maior. Como elege proporcionalmente
menos candidatos do que o PMDB e o PSDB, por exemplo, precisará lançar um
número ainda maior de postulantes a prefeito em 2016 para aumentar sua fatia de
poder municipal. Até agora tem conseguido, mas a um custo relativamente mais
alto do que o de seus aliados e rivais.
O PT chegou ao posto de maior partido brasileiro graças a
uma organização nacional, a um projeto de poder e a lideranças carismáticas.
Seu principal concorrente, o PSDB, tem uma lição de casa mais trabalhosa.
Precisa renovar suas lideranças, ajustar seu discurso eleitoral e corrigir
deficiências regionais.
Das sete centenas de prefeitos tucanos, 45% estão
concentrados em São Paulo (176) e em Minas Gerais (142). Isso pode ser um
problema para o PSDB eleger deputados federais em 2014, principalmente no
Ceará, na Bahia e no Rio Grande do Norte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário