O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu nesta
quarta-feira, 19, que o Supremo Tribunal Federal (STF) inicie o julgamento do
chamado mensalão mineiro, esquema de desvio de recursos públicos que abasteceu
caixa de campanha de políticos tucanos locais. Ele criticou o fato do processo
do mensalão do PT, concluído esta semana, ter paralisado o País. Para o
ex-presidente, isso mostra que ainda não existe "um sentimento efetivo do
respeito à lei" no Brasil.
"O Brasil ficou quase paralisado frente a um julgamento
quando deveria ser uma coisa normal. Por quê? É que tem graúdos aí sendo
julgados. O que mostra que é inusitado. Um país que ainda tem pouco respeito à
igualdade, pelo menos perante a lei, não dá. O fundamento da democracia é a
igualdade", afirmou o ex-presidente, em discurso na Associação Comercial
do Rio.
Questionado se essa critica se estendia ao fato de ainda não
ter sido julgado o mensalão tucano de Minas Gerais, FHC disse que suas
declarações valem para todos. "Isso vale para todos. Não sou uma pessoa de
ficar... Está ou não errado? Não sou juiz. Não sei. Tem que julgar e julgar
rápido", afirmou. O ex-presidente também disparou críticas contra o
Congresso, a CPI do Cachoeira e a correligionários. Para ele, o Brasil precisa
passar por uma "sacudida forte" e que é necessário iniciar um
movimento para se construir um país decente.
"Estamos todos vendo que o rei está nu. E temos medo de
dizer que o rei está nu. Um dia o povo vai dizer que o rei está nu, e nos
enganou. Não vamos nos enganar mais, vamos falar com franqueza, com
sinceridade, e assim vamos ajudar a conduzir um Brasil melhor para todos
nós", disse FHC, ao fim do discurso.
Posteriormente, ele negou que estava se referindo ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de mais uma série de denúncias
nas últimas semanas. "Eu não faço insinuações. Quando eu digo, eu digo. Já
escrevi uma vez sobre o Lula um artigo com esse título (O Rei está nu), mas não
foi agora. Faz oito anos. Agora eu disse metaforicamente. As coisas estão
erradas e todos nós estamos vendo. Não foi pessoal", afirmou FHC.
Ao analisar a maneira como o poder público vem conduzindo
questões importantes para toda a sociedade, o ex-presidente comparou o momento
atual com o período da ditadura militar: "Estamos vivendo de novo como se
vivia nos anos 70. Projeto impacto. O governo decide, publica e acabou",
criticou o ex-presidente, citando a importância de se debater temas nacionais e
dando como exemplo a questão dos royalties do petróleo.
FHC disse ainda considerar falsa a crise entre o Congresso e
o STF, por conta da cassação dos mandatos de deputados condenados no mensalão e
questões referentes aos royalties do petróleo. "Não há crise nenhuma. Tudo
é uma questão de interpretação. Uma vez que o Supremo toma a decisão de
suspender os direitos políticos, não há como a pessoa exercê-lo. Agora, eu
entendo que se informa à Câmara, que deverá tomar uma decisão formal de levar
adiante a execução do caso. Fora disso, acho que é uma tempestade em copo
d''água", disse.
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