Por Fabiana Moraes e Vanessa Araújo, do Jornal do Commercio
Alessandro Carvalho Liberato de Mattos é o novo secretário
de Defesa Social do Estado, após pedido de desligamento do delegado Wilson
Damázio (foto). O ato foi provocado por causa da repercussão de suas
declarações na entrevista publicada nesta quinta (19) no Jornal do Commercio e
que integra a série Casa-grande & senzala.
Na entrevista, Damázio, que foi procurado pela repórter
Fabiana Moraes depois dos relatos de abuso de poder (incluindo abuso sexual) do
Grupo de Ações Táticas Itinerantes (Gati), da Rondas Ostensivas com Apoio de
Motocicleta (Rocam) e Patrulha do Bairro, disse que não aceitava mais
comportamentos inadequados da corporação e que os casos registrados estavam
sendo punidos, a exemplo dos dois policiais (Patrulha do Bairro) que ano
passado foram acusados de forçar uma mulher a praticar sexo oral em ambos
dentro de uma viatura.
Ao mesmo tempo, o chefe da segurança civil do governo
Eduardo Campos deixou clara uma postura que não condiz com a importância de seu
cargo – e não se trata de uma importância relativa ao status, e sim na
responsabilidade urgente de se capacitar policiais que não conheçam direitos
humanos apenas através de cartilhas. Na conversa, homossexuais foram
relacionados à ideia de “desvio de conduta” e mulheres foram alvo de
preconceito e generalização: segundo o secretário, elas tem fascínio por
policiais fardados.
Na carta na qual colocou o cargo à disposição, Wilson
Damázio afirmou que as palavras ditas não constituem seu pensamento nem visão
do mundo, “razão pela qual repilo os termos e peço desculpas a todos aqueles
que porventura tenham se sentido ofendidos”. Disse ainda que a entrevista que
embasou a reportagem foi interrompida em vários momentos, o que teria permitido
o desenvolvimento, nos intervalos, de conversações informais, em tom de
brincadeira “e termos que, reconheço, foram inapropriados e inadequados”.
Wilson Damázio
No entanto, no momento em que relata uma das frases que mais
provocaram reação (“Não sei por que mulher gosta tanto de farda”), Wilson
Damázio respondia a uma observação sobre os policiais que foram pegos, no
Ceará, praticando sexo oral em mulheres, dentro das viaturas. O ex-secretário
ainda escreveu que suas palavras e a história de sua vida “podem ser
confundidas com as políticas desenvolvidas pelo governo do Estado que vem
revolucionando a Segurança Pública no Brasil com transparências, práticas
cidadãs além de total e absoluta intolerância com qualquer conduta contrária
aos direitos humanos, à liberdade de expressão e à proteção dos direitos
individuais da pessoa humana”.
Pouco depois, o governador Eduardo Campos aceitou o pedido
de exoneração em uma reunião com Damázio. Ali, ele designou o delegado federal
Alessandro Carvalho para ficar à frente da pasta e disse que o Pacto pela Vida
não sofrerá alterações.
A entrevista concedida pelo secretário de Defesa Social
Wilson Damázio fechando a série Casa-grande & senzala provocou forte reação
dos movimentos de direitos civis do Estado. Nesta quinta, às 15h, foi realizada
no Gabinete de Assessoria Jurídica às Associações Populares (Gajop) uma
coletiva reunindo representantes de 26 grupos, entre eles a Comissão de Ética
do Sindicato dos Jornalistas, Direitos Urbanos/Recife, Forum de Mulheres de
Pernambuco e Forum LGBT de Pernambuco, entre outros. Na internet, foram
centenas de manifestações, entre elas a do delegado da Polícia Civil Igor
Leite, que foi contundente em sua fala: nela lembrava que tanto ele quanto
Flaubert Queiroz, chefe da Associação dos Delegados de Pernambuco (Adeppe):
“diante desse absurdo, quem notifica o secretário?”, questionou.
Para Rodrigo Deodato, do Gajop, a fala só confirma o
pensamento não apenas do secretário, mas de toda uma parcela da corporação. “É
um grupo que anda afastado da efetivação dos direitos humanos, que mostra
descompromisso com a luta do rol de direitos de todas e todos.” Mariana
Azevedo, do Forum de Mulheres de Pernambuco (FMPE), não viu novidade na
entrevista: “Não é a primeira vez que que ele tem uma postura como essa. As
posições dele durante as manifestações populares mostraram isso... só confirma
o que vivemos nas ruas, a violência institucional não só em relação aos
movimentos sociais, mas com mulheres, negros. A prioridade pelos números do
Pacto Pela Vida se sobrepõe à vida das pessoas”, disse.
Sobre a associação de homossexuais. Sobre a questão da
homofobia, Thiago Rocha, do Forum LGBT, disse, em nome da entidade, que
homossexuais não se reconhecem como fora de uma conduta. “Estamos fartos de
sermos colocados dessa forma, dessa ideia de um 'padrão tradicional'. Nós fazemos
parte dessa cultura.”
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