Governador
José Richa, Presidente da Câmara Federal Ulysses Guimarães, ao fundo Franco
Montoro, o apresentador Osmar Santos e Orestes Quércia. Comício na Boca Maldita
há 30 anos.
Por Gabriel Manzano, O Estado de S.Paulo
Figura marcante da oposição ao regime militar em 1984, o
então deputado Ulysses Guimarães, que presidia o PMDB, respirou aliviado ao ver
as dezenas de bandeiras tremulando na Boca Maldita superlotada, no centro de
Curitiba. "Começamos triunfalmente", festejou no palanque arrumado às
pressas, 30 anos atrás, para o primeiro comício das Diretas-Já. O movimento
pedia o fim da ditadura militar e a volta das eleições diretas no País.
Cerca de 40 mil pessoas estavam na praça naquela quinta-feira,
12 de janeiro, para surpresa de Ulysses, dos governadores Tancredo Neves (MG),
Franco Montoro (SP) e José Richa (PR), do animado locutor Osmar Santos - e
também dos militares. No dia seguinte, uma multidão semelhante lotou o centro
de Porto Alegre. Duas semanas mais tarde, a Praça da Sé, em São Paulo, foi
tomada por cerca de 100 mil pessoas. Exausto, atolado na inflação, o regime
militar, velho de 20 anos, assistiu por três meses à animação das Diretas-Já se
espalhar pelo País. Um ato no Rio de Janeiro e outro no Anhangabaú, em São
Paulo, reuniram aproximadamente 1 milhão de pessoas.
O movimento sofreu um golpe mortal três meses depois, em 25
de abril, quando a emenda constitucional que propunha eleições diretas foi
derrotada no Congresso: precisava de 320 votos e só conseguiu 298. A campanha,
no entanto, fixou o momento em que as oposições passaram ao ataque contra um
governo que não sabia como reagir. Um ano depois do comício de Curitiba, em 15
de janeiro de 1985, Tancredo Neves era eleito presidente por um colégio
eleitoral. A ditadura acabava.
Amadora. O sucesso do primeiro comício das Diretas-Já
surpreendeu todo mundo. "Lotamos a Boca Maldita com uma convocação
bastante amadora. Dissemos que íamos fazer, distribuímos alguns panfletos e foi
só", lembrou depois o então deputado Nilson Sguarezi, do PMDB.
"Organizamos tudo em 12 dias e o resultado surpreendeu", afirmou
Alvaro Dias, na época deputado pelo PMDB.
"Organizar tudo" incluía alugar dezenas de ônibus
para buscar eleitores nos bairros e até em cidades próximas, convidar cantores,
escolas de samba, artistas de TV. A multidão vibrou quando Bete Mendes, atriz e
deputada (PT), propôs "tomar o Palácio do Planalto".
Trinta anos depois, o historiador Boris Fausto considera que
aquele início da campanha das Diretas-Já "foi essencial, de caráter
pluriclassista, um momento extraordinário". Mas o historiador viu também
"algo excessivo: as esperanças depositadas na campanha". Achava-se
que as eleições diretas iam instaurar a democracia, acabar com a inflação.
"Não era tudo isso. Mas abriu caminho e a campanha indireta de Tancredo
herdou seu vigor e entusiasmo e acabou vencendo em 1985."
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