Por Felipe Patury e Marcelo Sperandio, revista Época
O governador da Bahia, Jaques Wagner, conheceu o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final dos anos 1970, durante as
reuniões que formaram o PT. Desde então, eles mantêm uma amizade próxima.
Wagner foi ministro de três Pastas no primeiro mandato de Lula. Na crise do
mensalão, em 2005, foi escalado para chefiar as Relações Institucionais. Há
sete anos, comanda o quarto colégio eleitoral do país, o maior nas mãos do PT.
Por causa de sua reconhecida capacidade de diálogo, Wagner é sempre acionado
para apagar o fogo amigo. Agora, capitaneia o combate ao “Volta, Lula”. “Ele
saiu do governo com 80% de aprovação. Não tem sentido pegar esse patrimônio e
botar em teste.”
ÉPOCA – Por que o “Volta, Lula” prosperou com tanta força e
durante tanto tempo?
Jaques Wagner – Os candidatos do PT e dos partidos aliados
preferem disputar eleição no cenário mais confortável possível. De todos os
políticos brasileiros, o ex-presidente Lula é o que tem o melhor desempenho nas
pesquisas eleitorais. Se tem um cara com 50% e outro com 30%, torna-se natural
o surgimento de uma marcha a favor de quem aparece à frente. O estilo de
governar também entra nessa avaliação. Lula é mais afeito à confraria e ao
diálogo que a presidente Dilma. É outro ponto que deixa os aliados mais
confortáveis ao lado dele.
ÉPOCA – O “Volta, Lula” surgiu porque a popularidade da
presidente Dilma está em queda?
Wagner – A queda na avaliação positiva da presidenta Dilma é
uma fotografia do momento. As pesquisas na Bahia mostram que 91% dos
entrevistados ainda não decidiram seus candidatos. Repare: isso quer dizer que
a taxa de volatilidade beira a totalidade do eleitorado.
ÉPOCA – O PT suspeita da capacidade da presidente Dilma de
vencer a eleição?
Wagner – Em 2010, quando a presidenta Dilma foi escolhida
para disputar o Planalto, também havia esse temor entre os petistas e os
aliados. As pessoas lembravam que ela não tinha sido testada no voto. Falavam
que ela não tinha tarimba política. Muitos disseram que não daria. No final,
deu.
ÉPOCA – Pela primeira vez, uma candidatura petista à
Presidência é realmente desafiada dentro do partido. O “Volta, Lula” revela uma
desagregação do PT?
Wagner – Revela que o PT sempre será um partido de grande
diversidade. Também temos de admitir que o contexto atual é adverso. Depois dos
protestos do ano passado, o povo está mais rigoroso no julgamento da classe
política. Todos os políticos foram rebaixados. Quem era avaliado como excelente
passou a ser visto como bom, e daí para baixo. Quem está no exercício do
mandato perdeu crédito. A sociedade despertou para seu poder. Desconfia e cobra
mais dos políticos. Talvez Lula seja a exceção. Ele é uma referência no
imaginário popular. Por isso, muitos pedem sua volta. O “Volta, Lula” é
natural, mas não é bom para a política. O Brasil é uma democracia grande demais
para ficar refém de um único nome. Esse movimento é ruim para Lula. Ele saiu do
governo com 80% de aprovação. Não tem sentido pegar esse patrimônio e botar em
teste, a não ser numa situação de absoluta desarrumação, e não é o caso.
Definitivamente, a página do “Volta, Lula” foi virada.
ÉPOCA – Em 2010, a quinta maior votação da presidente Dilma
foi na Bahia, com 71% dos votos. Agora, o deputado Rui Costa, que o senhor
indicou como sucessor, patina nas pesquisas. A Bahia entregará a Dilma a
vantagem dada em 2010?
Wagner – Por enquanto, na Bahia, nossas pesquisas mostram a
presidenta Dilma com 75% das intenções de votos válidos. Ela é forte, mesmo com
todos os problemas. As pessoas sabem da presença do governo federal em vários
programas muito fortes na Bahia, como o Mais Médicos e o Bolsa Família.
ÉPOCA – Em 2007, em seu primeiro ano de governo, a taxa de
homicídios dolosos era 24,8 por 100 mil habitantes. Em 2012, ela chegou a 38,5
por 100 mil. O que deu errado?
Wagner – Não é que deu errado. Temos uma escalada de
violência no país inteiro. A curva é linear. Subiu no meu governo tanto quanto
no anterior. No ano passado, pela primeira vez em duas décadas, houve uma
inflexão na curva de crescimento dos homicídios dolosos. Tivemos uma queda de
7,8%. Hoje, temos uma estrutura de segurança mais profissional. Temos prêmio
por desempenho policial, contratamos 14 mil homens, a frota da PM foi renovada
e os policiais tiveram um aumento salarial de 60% acima da inflação.
ÉPOCA – Se houve tantas melhorias, por que o senhor
enfrentou duras greves dos policiais?
Wagner – Porque a gente precisa melhorar mais. Há uma série
de vícios na administração, e também existem erros de relacionamento. É uma
questão que depende de regulamentação nacional. Defendo que a Polícia Militar,
como linha auxiliar das Forças Armadas, não tem direito de abandonar a
população a sua própria sorte. Portanto, não existe a figura da greve na PM.
Não adianta falar que houve greve pacífica. A greve da polícia não pode ser
pacífica, porque entrega o Estado aos bandidos.
ÉPOCA – Qual o ponto fraco de seu governo?
Wagner – Queria ter avançado mais justamente na segurança.
Tentei fazer um planejamento no meu primeiro mandato, mas não tive êxito. Só
consegui implantar o planejamento, o Pacto pela Vida, no segundo governo.
Começamos a avançar, mas ainda não chegou a hora de colher os frutos que
espero. É uma batalha difícil. O crack e a cocaína estão na raiz de 75% dos
homicídios na Bahia.
ÉPOCA – O combate do tráfico de drogas é atribuição do governo
federal. O aumento na taxa de homicídios na Bahia foi causado por uma falha nos
trabalhos da Polícia Federal?
Wagner – Falta planejamento para o maior controle de
fronteira. Não é um problema estadual. É um problema nacional. Se a gente não
limitar a entrada de droga no país, os governadores ficarão enxugando gelo.
Precisa ser um trabalho combinado entre a presidenta e os governadores. Ela
sabe disso. O Brasil não produz um grama de cocaína. Vem tudo de fora.
ÉPOCA – A cocaína vem daqueles países com relações
privilegiadas com o Planalto nas gestões petistas. Os governos Lula e Dilma não
se empenharam tanto quanto poderiam em combater o tráfico de drogas desses
países para o Brasil?
Wagner – Não faltou empenho, mas é preciso ampliar o esforço
e endurecer o jogo. Não sei se você conseguirá parceria com os governos dos
países produtores. Não é fácil, porque nossa fronteira seca é muito extensa.
ÉPOCA – O Brasil é leniente com a Bolívia?
Wagner – Se for isso, direi que o governo americano é
conivente, porque muita cocaína é exportada para os Estados Unidos.
ÉPOCA – Mas os Estados Unidos têm uma relação mais rigorosa
com os governos dos países produtores.
Wagner – A única política que se pode ter passa por uma
parceria internacional. Os países precisam se integrar para substituir a
plantação de drogas por outras atividades econômicas. É preciso dar
alternativas para que as pessoas possam sobreviver de outra forma.
ÉPOCA – O que o senhor se orgulha de ter feito como
governador?
Wagner – Do resgate social. Geramos 565 mil empregos,
alfabetizamos 1,3 milhão de pessoas e levamos água a 4 milhões de baianos.
ÉPOCA – Muitos petistas querem que o senhor seja escolhido
pela presidente Dilma como um dos coordenadores da campanha dela. Ela já o
chamou?
Wagner – Coordenarei a campanha dela na Bahia. Vou me dispor
a viajar para Brasília para ajudar na coordenação central. Agora, essa conversa
de coordenador do Nordeste não existe. Cada Estado da região terá seu
coordenador específico.
ÉPOCA – Se a presidente Dilma for reeleita, o senhor espera
ser convidado para ser ministro?
Wagner – Nunca conversei com ela sobre isso. Ela não me fez
proposta alguma. Não é correto conversar sobre isso antes da definição
eleitoral. Mas, por causa da nossa ótima relação, é natural que as pessoas
especulem que ela me chamará para trabalhar em algum ministério.
ÉPOCA – Um dos personagens principais da CPI da Petrobras
será seu secretário de Planejamento, José Sérgio Gabrielli. Isso o constrange?
Wagner – Não. A chance de o Gabrielli ter culpa no cartório
é zero. Ele disse que quer ficar no meu governo até o fim.
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